sábado, 20 de outubro de 2007

_amor a partir de D.C.

Aos bem-aventurados, esse narrador é um pobre coitado que pouco fala...é o contrário do discurso indireto livre, é o discurso direto livre...é o narrador que se intromete do nada, e não o personagem. Cuidado!!

Aliás, está pesado, sujo e saibam que o sexo aqui não é o sexo daí. Nada mais é tão carinhoso quanto uma transa.

Para fazer esse texto, tive 3 musas inspiradoras, uma história basal e NADA do que escrevi se relaciona com as musas tampouco com a história. É apenas o agradecimento e a redenção que precisavam sair de mim.


-X-


Antes mesmo já sabia; era ela quem tocaria o telefone, era ela quem perguntaria sobre meu dia, sobre o trabalho, eu serviria notícias e ela pagaria com telefonemas no dia seguinte. Presentava eu e mais nenhuma alma viva, era apenas eu. Nem sequer um mosquito, era o auge da agitação que eu conseguiria sozinho: aquela sala vazia, cheia da mais pura presença minha, e assim é que gosto.

Havia dois lugares no sofá preto, um era cativo meu. Outro era quiçá de uma ou outra garota com quem decidisse transar na noite anterior, nunca mais do que uma trepa, uma foda e logo estaria vazio novamente; odiava ter de dividir minha sala com pessoas potencialmente putinhas minhas, era como se fosse eu um vulgar, fosse eu um hipócrita, não queria aparentar um aproveitador, desejava ter bucetas ao meu dispor e não ter de acariciá-las na manhã seguinte, ou melhor, não gostava da idéia de acariciar o que usaria como instrumento de prazer e de raiva. Era um utilitarista. Quase um pragmático.

Ontem, assim como no dia anterior e durante toda a semana passada, ela me ligava no cume do momento meu e atrapalhava toda a concentração. Hoje - e lá tocava D.C. novamente - sua voz foi diferente: vou-me já para sua casa, em cinco minutos chego )morava a menos de cinco minutos, estava mentindo, certamente, para passar na farmácia comprar camisinhas(, prepare-se. Como poderia ficar tão excitado em tão pouco tempo? Aquela gostosa em quem ninguém podia encostar um dedo sequer estava a cinco minutos de aparecer e se entregar para o papai aqui.

Pela primeira vez decido organizar minha sala antes de um foda, essa era uma ocasião inusitada, não se recordava de nenhuma vez em que teve tempo para arrumar sua vida sexual com tanto tempo de sobra! Era um cômodo teoricamente morto, uma televisão podia ser vista à direita de quem entra e diametralmente oposta a ela, um espelho que decorava um tanto a podridão que o conjunto postava. O sofá preto de couro sintético estava entre ambas e causava um impacto entre o que os poetas representariam como a união da cópia e do todo - gregarizações duvidosas aos orgasmos que se passavam tão grosseiramente na sala. Acima do batente da porta de entrada havia um crânio de boi que ganhei do meu velho...pra atrair boas energias...demorei até os dezesseis pra saber que são boas energias. Havia ainda a sacada, aquele lugar das preliminares, onde tudo que odiava se passava - por morar na cobertura no vigésimo segundo andar de um prédio isolado verticalmente, por ser o único com tantos andares na vizinhança, ninguém de fato poderia interromper a dança de acasalamento - o gozo e o prazer só aparecem na penetração, porque as mulheres gostam tanto de nos testar se mesmo sendo eu um romântico dos Anjos - desculpe, era impossível negar a brincadeira com o nome do poeta - sempre acabo no dia seguinte esperando acordar sozinho.
Hoje arrumou a sala de uma nova disposição: o espelho ficou atrás da televisão e o sofá foi encostado na parede, dando espaço para a mesa de centro com um arranjo de rosas artificiais tão bem feitas que podem ser alvo de chutes que mesmo assim as pétalas parecerão feitas de celulose e cheias de verdura.

)Na real, até então naquele recinto que exala sensualidade só entravam varões e minhas putas. Nada mais. Testosterona reinava sobre o sêmen que impregnava partes esparsas daquele que era meu rosto à sociedade e duas lágrimas feminino já eram o suficiente para expulsar qualquer tentativa de homossexualidade em minha casa.(

Lembro-me dela numa de suas ligações dizendo que se deve conquistar uma mulher aquecendo o conhaque na vela acessa...puta que a pariu...abre as pernas logo e vamos à manhã seguinte...
declamava tão poeticamente que sentia uma flechada na parte direita do peito, um toque de poesia antes de um encontro desses é sempre bom como média - se bem que...que falsidade e quanta hipocrisia, só queremos uma trep...! Batem endoidecidamente a porta, com tanta intensidade que se abre como se um fantasma girasse a maçaneta, a brisa passa a tomar conta do corredor que se criou entre o mundo lá de fora e sua casa: quase como os podres e malditos cineastas produzem sua protagonista, D. se postou lá, na entrada de sua casa, cabelos ao vento, louros e macios como sempre foram, levantava suavemente seu rosto, unicamente para manter um ar de suspense que só me dava ainda mais tesão...boa noite, querido. - pronto! tô dentro!
Vem me cumprimentar, sobe os dois degraus que separam o hall de entrada do corredor inicial como se estivesse em uma passarela a desfilar. Não é que aquela gostosa veio mesmo!! Inacreditável!! Sempre imaginem ela tão fora da minha, aparentava sorrir falsamente para cada ladainha que saia da minha boca...mas, caralho, ela tá dentro!

Parecia andar em câmera lenta, mas finalmente chegou aos colo dele. Seus braços o abraçavam de modo reconfortante, passava-os pelas axilas e seguia seu passeio com as mãos a caminho de seus ombros, não existe abraço tão confortável quanto esse, verdadeiramente. E ele? Gostosa...vem pro papai que essa noite vai ser inesquecível!
)pois de já a depois, tomarei conta eu, o narrador em ofício, o outro estará ocupado por demais, deixemos.(
Suas mãos enormes puxavam alguns fios de cabelo que desrespeitavam o penteado para trás, buscando dominá-la. Sem hesitação, e sem exitação, pois também. Ela afasta seu corpo do pecado e notava-se uma proximidade inexplicável entre os dois ainda assim; um rosto de medo e outro de compaixão e simpatia, um de virilidade outro de feminilidade, um olhar cego e outro iluminador. Malditas antíteses que existem, aqui seria demais se deixassem de aparecer?
Vim aqui porque estava tão sozinha em casa...quero sua companhia...e não só ela, posso tê-la? Pode ter-me todo, diz-me o que quer que te faças, faço o que pedir. Quero ir à sacada, que tal?! )estamos dentro!( Pois demora a pedir, vamos afinal!!

A noite estava escura como é resultado natural de uma lua crescente ainda nova e de nuvens densas e ventosas de inverno. As palavras que saiam de ambas as bocas aparentavam tocar-se no éter entre os dois, pareciam acasalar-se, previamente ao que aconteceria posteriormente. Chocavam-se sem se tocar, chocavam-se pois os sons intensos dela pareciam opostas aos dele, frias e sem emoção. Gradualmente, cada "querido" e cada toque que os dois trocavam não era a matéria que se enrijecia, era o que ambos tinham: absolutamente nada além de um coleguismo rudimentar. Dessa vez seu passar de dedos atiçava todos os pêlos do braço dele, não por prazer, ainda não sabia o que lhe ocorria.

Terminei com meu namorado. Sinto-me um cachorro. Meus pais acham que sou insuficientemente boa para eles. Estou confuso com que quero de minha vida. Minha última transa foi há três meses, estou sedento. Quero ser escritor. Eu também. Quero ser ativo. Quero colo. Eram dois rostos na mesma sintonia, eram dois olhos que conversavam sem intermediação da voz, eram carinhos que se bastavam.

Uma conversa que durou boas três horas. Tá no ponto, ao ataque. Inclinou seu rosto levemente para frente, esperando para ver se havia resposta dela, e não houve. Avançou um pouco mais. Ela desvia o olhar, repara a paisagem, espera ela retomar sua posição de origem e vai atacá-la, e o faz. Um lábio encosta o outro, as salivas se misturam grosseiramente, o abraço se torna mais quente, uma bunda é um começo apropriado para se adentrar.. vão ao sofá preto rapidamente, esperando pelo prazer, ele se torna um insensível, derruba as rosas e partem para o que interessa...ôpa...não é que tocam justamente nesse momento a campainha de modo frenético? Ele sai correndo e chega, nota, é Ela, com cara de prenha, com olhar de vontade sexual, de quem está na seca há pelo menos seis meses, voltava de um curso que fez na Arábia Saudita, estava há sete meses sem, saber o que era prazer. Ele, sem ações, é beijado e responde de pronto, aquilo sim era selvageria. Era o que ambos queriam. Os dois se fodem sem o menor pudor, a vagina, já arrombada , não é problema algum para o já fadigado pinto dele. Mas...e a outra? Quero dizer, e a primeira? perde-se para a outra e se torna a outra? Sem explicação? Sem nada? Sem beijo nem vela? Duas lágrimas caem de seus olhos, lágrimas essas que nunca foram descobertas por nenhum dos outros dois ocupados: ela sai de cena desnorteada, corre como nunca, para, pelo que pensava, nunca mais voltar.

Uma transa sensacional. Orgasmos múltiplos. Porra sujando a mobília da sala e dessa vez algo novo: às dez da manhã seguinte, o lugar cativo do vácuo foi ocupado por Ela. Agora só havia espaço para uma, nunca mais, ninguém ocuparia aquela sala senão os dois. Não que isso lhe machucasse, a foda era foda, e gostava demais disso, queria esse gosto de novidade para o evo. A tarde seguinte foi tão animal quanto a noite anterior, pacotes de camisinhas de menta, de chocolate, com espermicida, que esquenta, que gela, que dá mais prazer, que retarda o prazer...todos usados. Só faltava uma única novidade naquela tarde: ele ficar sentado e ela comandar, estava ele já todo fodido e cansado. Antes, que tal um pouco de conhaque, lindinha? Aceito, por favor! Esquentava-o na vela quando outra vez a campainha toca, entrega a dose a sua mais nova cativa e parte ao olho mágico, ver se era o vizinho pedindo que os gemidos abaixassem de volume, pois seu filho já escutava os barulhos, e isso o incomodava. Não! Era ela noutra tentativa, era D.C., chorando, com cara de reinício, com vontade de funcionar. Ignorou-a e voltou à atividade, ainda ouvindo os socos furiosos dados na porta, exigindo qualquer explicação possível ou impossível, de fato, ansiava apenas saber que seu corpo ainda sentia tesão por ela.

Voltaram à atividade como se nada tivesse acontecido, e desta vez, como prometido, com ele sentado em seu lugar cativo e ela por cima, rebolando e gemendo como se fosse o maior êxtase do mundo – e era. A dança era especial, algo novo, enfim. Algo digno de um casal que se fode sempre – e que por isso não se amam. Os olhos revoltos giram em parábola e o peito manequim 44 balança celeremente, jogando-se contra o rosto dele, deixando-o ainda mais com fascinação pelo que acontecia. A camisinha quase rasga de tanta pressão imposta na fricção, a vulva dela começa a se contrair, de modo a se inteiriçar, seu clitóris está em chamas; nele, a virilidade mostrada ao seu máximo, o abdome endurecido, o movimento com as coxas, que passam a carregar duas pessoas. Uma cena de movimento incontestavelmente prazerosa.

Fecha seus olhos como se para absorver o máximo de cada peristaltismo, passa a viver unicamente pela emoção e pela sensação que lhe vem do roçar entre as carnes, uma animação estimulante que se torna rotineira e plenamente querida. É mais do que uma simples evocação do contínuo; é a sensação contínua de prazer, é o sentir tanto o tudo que esse se torna nada...e abre os olhos: onde se meteu? O gozo ainda reina em seus pêlos, mas cadê ela? A sente, sabe que lá está, mas não consegue enxergá-la. Sabe que ainda transa, sabe que se masturba, sabe que está só, mas continua.

Agora a sala está cheia. O sofá preto é plenamente preenchido por ele, deitado, refletindo sobre as estrelas que consegue ver através da porta de vidro da varanda. A televisão desligada, como de costume, um livro pode ter seu lugar tomado por uma revista de mulheres nuas. Hoje o que faz é consertar o vaso de rosas, ainda sabe que aquele foi fonte de muito prazer já e por isso o quer novamente na mesa de centro. Os cacos eram muitos e diminutos, a cola não era das mais manuseáveis, suas mãos trêmulas não colaboravam, mas gradualmente o vaso retomava sua forma original, levemente distorcido – distorcido é deveras forte, diferente, nem para melhor tampouco para melhor – e o que dantes viva no formato de uma Catedral brasiliense agora aparenta uma loura curvilínea na praia de Ipanema – com o seu balançar que é tão poético. Faltam duas peças, as de mais pesar e dificuldade.

Para. Hesita na tentativa, suas unhas já coladas umas às outras esboçavam um movimento de separação, seus olhos derramavam suor em bicas, mas aqueles dois pedaços insistiam em não se unir ao todo ainda. Puta que pariu essa porra...pensou em C. – quanta formalidade a partir de agora não passa de um movimento natural de afastamento – e no sexo que perdeu com ela, puta merda, era uma foda foda em potência...que se ferrem os cacos. Vou – e vai – ligar pra ela. Dois toques bastam; ela atende com um Alô alegre. Oi, sou eu. Oi, querido. Vem pra cá? Ta bom – essas palavras saiam levemente mais agudas do que sua voz naturalmente o faz, parecendo um descaso e que de fato não o é – em cinco minutos chego.

Cinco minutos, tempo suficiente para terminar a reconstrução do vaso. Era o que pensava, era o que não fazia. Em cinco minutos uma única peça quase se auto repôs, e só. Tremia ainda – quiçá era o tremor da falta de sexo. Dessa vez nada de a porta bater, ela já entrou sem mesmo pedir – nem precisava mais, que respeito devia ela a ele? C. era alvo de um uso animal, e mais nada – mas sabia que o usava para o mesmo. Vamos logo...tenho sede de tesão, preciso de orgasmos. E o empurra para o sofá.

)Não se carece explicar a cena, todos a conhecem, até mesmo os virgens – pois esses são mentirosos.(

Findado. Cigarro. Fumaça. Cola para recompor o vaso em sua perfeição. Agora sim, seus dedos estavam seguros, seus olhos fixaram-se sem muitos problemas, o caco estava por fim vencido. Do mesmo modo, o sofá estava vencido, o tabu se extinguiu, a lei do silêncio e do vazio acabava sem dor – ele por contrário gostava disso. Todo segundo estava o sofá preto ocupado por ele e por C., não necessariamente em corpo e osso. É verdade que não era sempre e tampouco toda noite que a transa acontecia, e não era isso que tornaria ambos felizes, mas sim uma foda prazerosa na noite anterior e se fosse imperativo e forçoso, um se masturbava, a outra batia uma siririca, algumas – muitas – vezes isso era quilômetros mais acolhedor e reconfortante no táctil ao prazer sexual em si. Sabiam que teriam sempre ao assento ao lado um putinho ou uma vadiazinha com que poderiam roçar carnes novas.

)Agora não acompanho mais a estória do casal, ele provavelmente vê beleza no vaso sim, sabe que pode haver um quê de amor na transa. C. é certa de que a proteção da virilidade dele é indiscutivelmente o que a prende. Contudo, será que um dia chegaram os dois a ficar um dia à noite a passear nas vielas e nas alamedas da cidade acariciando um a nuca do outro? Será que houve um beijo com amor? Será que o toque deixou de ser erotizado? Isso não é uma história com um final feliz de conto de fadas, é puramente a realização de uma transa que foi abortada antes mesmo do nascimento, esperam, os mais românticos, que houve sim a descoberta do amor. Sabem, os mais sábios, que isso só será possível quando ambos cessarem de pensar em prazer próprio e deixassem de se masturbar: a vida é vivida, pois assim, nos momentos de dor.(

8 comentários:

Guilherme D. disse...

Já disse que você é genial?

Simplesmente esse texto fluiu como todos os outros fluidos da história. E olha que são muitos...
E o final, instigante. Fez-me refletir muito. MUITO MESMO...

Eis uma lição de vida: como escrever sobre sexo sem deixar de lado a poesia. As OUTRAS palavras nos fazem esquecer que o SEXO está ali, nu (literalmente) e cru (porém já muito quente). Quem disse que essa história é sobre sexo? Só por que fala de sexo?

Giu disse...

Tem uma parte q ficou meio confuso
"(...)esperando para ver se havia resposta dela, e não houve."
essa ela é a DC, certo!?

aí aparece a outra da arábia, né?
e o cara pega quem? e oq acontece com a outra?

Te amo

Anônimo disse...

Polêmico!

Eduardo disse...

tenho mais coisas a comentar!

Jubaz disse...

n havia lido nda seu ainda... legal!!
mto criativo!!

=]

Kiko disse...

Tempos atrás você me disse:
Cara! Você é muito criativo pra dar títulos aos seus textos. Eu não tenho essa capacidade.
Taí a prova de que tem!
muito bem escolhido o "a partir de"!

Abraço!

ps: Vc já reparou nisso? Pra comentar aqui no blogger, há uma indicação: "Escolha uma identidade". Curioso, não? Eu diria, muito mais feliz do q outros que dizem: "identifique-se".

Letícia Mori disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Letícia Mori disse...

Adorei esse seu novo estilo! Não q o outro não fosse bom, mas esse é bem mais inteligível!

Primeiro eu ri muito. Depois eu achei deprimente. Mas é muito bom.