sábado, 8 de dezembro de 2007

_quandonde fora ou dois passos depois do depois

Mas e se eu não der?

Inclinando seu dorso ao sul, seus pés, imóveis e medrosos não davam sinais de vida, toda vivacidade tinha-se esvaído e seus olhos tremulavam esbranquiçando a sala escura a qual estava defronte.

Chegara do trabalho, como de costume, após alguns minutos de passeio pela Paulista; sentou-se ao lado dos pombos do vão do Masp, arrulhando falatórios dos transeuntes, e não é que sua mulher hoje estava de mãos dadas com seu subordinado?, gemendo as raras migalhas de pão, os chutes ao léu. Avistava o centro paulista, entorpecido e incólume dos tiros de impassibilidade ou malfazejos in-olhares; estava completamente parte do caos paulistano – não como agente, mas como objeto.

Seus olhos se cerraram por vontade própria, calando qualquer força de vontade ou anseio em tê-los abertos; nada errado. Passara a ouvir o os vôos dos aviões distantes que desciam a Congonhas; decidira prestar atenção à maré do Pinheiros; ver – apenas com o poder de seus ouvidos – aquele acidente na Marginal: ok, menos metafísica, corpo, não somos magos, somos paulistanos! Podemos ouvir, pois não, a turba insossa... pedido aceito.

Um chiado inconstante – uma arte inoportuna e concreta – fazia um intraduzivelmente choque de percepções; o sentido do absurdo era, por si só, ridículo! Quando que tanta criatividade culminaria em tanta desordem? Só aqui mesmo, justo aqui dentro.

Passara a gostar do estudo do nada e o todo aparentemente esbanjava inexistência – sabe? ondas destrutivas – enquanto que, de súbito, aqueles mesmos olhos que haviam se fechado decidem por observar a bruaá que perturbava os ouvidos, as células sensíveis da pele, o paladar, o olfato – que não tinha – e o sexto sentido. Argh!! Quanta falta de força sobre mim mesmo eu tenho!! Seus olhos pararam, avistaram, ao longe – bem longe mesmo – um transeunte sensivelmente miúdo olhando para sua direção – não exatamente – e acariciando o ar, movimentando seus dedos como se fosse esquizofrênico. Hoje, no mundo, o que não é esquizofrênico é errado. Seus olhos cegaram-se.

Ora, pois finalmente, a posteriori de tanta inabilidade, comanda seus pés – steps taken back and forward – a caminho de sua casa. Vamos ao começo de tudo.

(Seu apartamento, otimamente localizado, com vista para tudo que lhe interessava, próximo ao trabalho, da Paulista, do Jabaquara, da Emílio Matarazzo e do Horto Florestal, era típico de um solteiro de vinte oito anos descolado, móveis de antiquários na sala de jantar – herdados pela avó – na sala de TV, uma fullHD, 1028p, 49 polegadas com transformador digital embutido, na cozinha, uma pilha de panelas, pratos, copos e talheres na pia; Quando eu precisar, eu limpo o que preciso; no banheiro, gotas se espalham; uma toalha abarrotada – ainda parece tão criança – e um sabonete do mês passado fazem jus ao estereótipo de macho: sujo e insuficiente.)

O molho de chaves que um dia foi motivo de minutos fora de casa só para descobrir qual era a correta já não intimida: é aquela com a cabeça quadrada arredondada. O elevador estava, como de costume, no térreo e ele – morava no quarto andar – que costumava subir pelas escadas decidiu mudar hoje e ir de elevador. A porta nunca pareceu tão leve, tão facilmente acessível. O espelho refletia seu olhar seriamente alegre, hígido e penetrante; ficou se encarando, como que Saia daí, não quero você na minha frente, não há ninguém nunca na minha frente – sim, era um executivo, competitivo ao extremo. Como já rotina, seu rosto tornou-se para a direita, seu dedo apartou não o quarto andar, mas o décimo terceiro, a cobertura.

A musiqueta que preenchia o cubículo era uma versão em Bossa Nova de As Tears Go By, deliciosamente brasileiro-saxônica entoando “smiley faces I can see, but not from me”...não sabia que o elevador era tão lento, o CD que tocava já havia dado voltas, extrapolo na medida, mas sim, o décimo terceiro andar parecia longe demais e vertiginosamente acima do aceito para um acrofóbico.

Estagnou

Bruscamente, o que parecia quase parado, acelerou de forma tal que e voltou, como se uma criança em fort das jogasse a chupeta ao longe só para tê-la trazida pela mãe. Seu coração nem uma extra-sístole apresentou, continuou o mesmo ritmo de costume, seus olhos, fitando-os a si próprios contra o espelho, amedrontaram-se – e não ele.

A falta de sentimento o assustara. O elevador estava já silencioso e retomando o padrão, e justamente nesse momento é que o grito dele sai, acovardado e sincero. Silencioso. Seus lábios se distanciam, um fio de saliva os une, suas cordas vocais tremem quando tocados pelo pulmão expulsando todo ar que consegue, um estrondo que fica todo ele preso naquela fina fita de baba. É notória a freqüência destruidora que assola a cola dos lábios.

Pum

Finalmente o décimo terceiro andar chega.

Um hall belíssimo, o mármore que compunha a mesa segurava um vaso chinês todo remendado – infantilmente – como se uma criança tivesse jogado sua chupeta com força tal que, com um sutil toque, puxasse o chão ao recipiente, estardalhando-o e fazendo com que seu irmão mais jovem de apenas seis anos sentisse na necessidade de arrumá-lo. E a culpa recai sobre o pequeno. Vaso podre, de fato.

A luminária do teto, toda em cristal, resplandecia o sol que estava lá fora – ah! lá fora... como deve estar delicioso o verão! – e quase cegava o pobre morador do quarto andar. Não mereço morar no quarenta e quatro, aqui é o meu lugar! Um ap. por andar!!

A porta do elevador fechou-se e este desceu para o térreo enquanto ele apreciava toda a pompa da cobertura. Seus dedos, naturalmente, socam o botão, chamando pelo elevador.

Demorava em excesso.

Queria visitar o ap., quem sabe comprá-lo num futuro. )se estava você, leitor, pensando que a porta misteriosamente abriria, saiba que o único sobrenaturalismo aqui está no próprio personagem( Posta-se contra a capainha, seus dedos, vergonhosos, empurram o botão vagarosamente e sem muita demora; aguardam uma resposta de dentro. Seu cérebro sente-se cara-de-pau, mas mesmo assim aguarda que venham atendê-lo.

A porta se abre lentamente, um breu lá dentro o sufoca. Tenta bisbilhotar, xeretar, que seja, queria poder ver através da madeira, conhecer o felizardo morador. Ao meio do caminho, a porta acelera seu movimento e completa sua abertura numa só patada.

.. .. ..

..

Era ele mesmo que atendia a si próprio! Seus olhos se esbugalharam, imóveis, seus membros tentam, a todo modo, buscar a calma, ou a raiva, ou o medo, ou a covardia. E nada muda. Posta-se chocado contra sua imagem lá dentro.

Seu rosto alvo era o mesmo de si no lado de dentro do apartamento. Suspeitou ser alvo de alguma eutrapelia ou alguma jocosidade infantil; um espelho, Um espelho!, só pode ser...Piscando sutilmente, seu olho direito brinca com sua imagem, apostando corrida, quem será o mais rápido? Confirmada a teoria. Era um espelho

)É engraçado...para ele, passado o susto, o movimento de sua mão esquerda para reacender a luz do corredor não era sentida quando essa saia de seu campo de visão no espelho. Só sabia o que existia aquilo que era mostrado no espelho – sua percepção está enquadrada nos moldes daquele pedaço de vidro.(

Aguardou alguns instantes para o pirralho sair e deixar que ele entre no recinto. Seus pêlos já começaram a relaxar, expeliam menos sudorese, estavam conscientes da situação.

Nada do moleque aparecer atrás do espelho com aquele sorriso de filho-da-puta ou de pirralho mesmo, daqueles sacis malditos. Ao decidirem por tocar a campainha novamente, seus dedos demoram a soltar o interruptor, o barulho era sua intenção; queria aproveitar seu tempo, afinal!

Cinco minutos rodados em seu relógio. E nada. Iradas, suas pernas, sem pedirem álibi do restante do corpo, chutam violentamente o espelho para quebrá-lo – ou será que quem chutou não foram suas pernas, mas ele mesmo? – e conseguem depois de algumas provas de sua virilidade.

A sala que estava atrás do espelho era visivelmente bruna, só se via o preto reluzindo no nada que havia lá dentro. Não havia vida lá dentro. Só ele em sua futuridade ou em seu pensamento. Queria, seu pé esquerdo, dar o primeiro passo, mas não conseguia. Ele não deixava.

“Mas e se eu não der?

Inclinando seu dorso ao sul, seus pés, imóveis e medrosos não davam sinais de vida, toda vivacidade tinha-se esvaído e seus olhos tremulavam esbranquiçando a sala escura a qual estava defronte.”

Os poetas confrontariam o mármore do hall com o nada do apartamento. Mas ele não; ficou espreitando, atônito, o quarto, esperando para ver o que se procedia.

Nada.

A porta, as janelas, os armários – não se sabe se havia, mas os ouvia – mexiam-se ao sabor do vento que adentrava com o corredor de ar. Não era o apartamento que se mexia, eram suas extremidades; era a naturalidade que causava alvoroço, e não a humanidade que deveria haver em uma casa.

Encorajou-se, decidiu dar um passo para dentro, e observar seu adentro: olhar para o interior sempre é o mais difícil, metaforicamente ou não; imaginem na escuridão presente!

Conseguiu; seu temor não era mais problema. Entrou, dolorosamente, mas entrou.

)Sabem quando sonhamos que estamos caindo de um penhasco e acordamos em nossas camas?(

Barulhos, gritarias, uivos, farfalhadas, choros. Um turbilhão de sons assustadores adentrava aos ouvidos dele, martelando seu cérebro, danificando sua audição. ... o silêncio – foi a primeira coisa que existiu – reinou; ensurdecera. Cego, surdo, inolfatente. Sua mão e sua boca. Era o que lhe sobrara.

Andava descontroladamente procurando a saída, chutava o chão – e nem isso havia de fato – e buscava tocar a parede. O apartamento era vazio suficientemente para não haver nada num raio de bons metros.

Estava assustadíssimo, não sabia para onde ir, não poderia sair dali sem ajuda. Queria chorar. Forçava suas lágrimas a cair: seu choro foi na medida certa, deixou-se liberto flutuando no nada. Alagou a região próxima a si, deixando que sua juventude transbordasse naquele mundo tão aterrador e terrível – nefando! – e sentiu-se um bebê.

E como um bebê levantou, engatinhou pelo quarto, como se buscando sua mãe. Só sentia a si mesmo, o chão era etéreo e não concreto, seu pranto derramado congelava antes de encostarem-se a suas maças do rosto.

Socou o ar. Sorriu o nada. Gracejou consigo. Chorou a falta de tempo.

Seu bel-prazer era tanto, sua força era tanta que explodiu sua cabeça espalhando-se ao apartamento. Passou a se concretizar uma vida estranha no quarto – ele não via, não ouvia, tampouco tateava, só sabia de sua existência.

Voltou a engatinhar, sentia o mundo concretizando-se, sem vê-lo.

Passado o passeio, sentiu um leve pontapé em sua mão, sabia que estava com alguém e que esse passou a vigiá-lo desde alguns parágrafos. Subiu seu olhar – só instintivamente, não via naquele breu – e, como mágica, viu o olho de seu anjo, encarando-o seriamente, eram olhos de vidro, transparentes, em fato, via-se através dos olhos, via a alma. Sorriu como quem nada quer. Sabia quem era.

Sentiu tudo que estava exposto naquele imo, sem medo, participou, dividiu experiências e sensações, criaram um elo de modo tal que o mundo não mais existia em suas voltas, só havia vida ali. O quarto passou de existir.

A cegueira mantinha-se, o sorriso ingênuo e a sensação de gozo só foram banidas quando, no devido momento, no instante necessário da parada, só havia ele, o elo acabou, não mais era necessário. Seu anjo havia se esvaído, estava abandonado novamente no quarto.

Os olhos cerrados na instintividade se abriram. Estava em casa e assaz leve – o bastante. Queria provar ao mundo que não ficaria reprimido ou incondicionalmente súdito – nem de ninguém, nem da linguagem, nem de si próprio.

Em dois instantes, foi para a sacada e se jogou.






)Já notaram como o mundo é possessivo? No fim de tudo, o que era dele? Ele mesmo. O que era de seus sentimentos? Os sentimentos.

Em realidade, nada disso aconteceu. E o que aconteceu, não consegui escrever. A infelicidade do escritor é ser sempre verdadeiro. A mágica do conto está quando se lê de olhos fechados.(

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

_culinária retropofágica

)esse post é teu(.)(

Cansei de escrever sobre mosquitos, relógio, salas borgianas. Cansei de escrever com a cegueira de Saramago, com a nitidez de Machado e com palavras que nada significam, senão tudo. Cansei de falar de sexo e ser incompreendido - isso sem tocar no ódio que criei aos porcos que não se identificam e à ignorância de algumas mariposas e a astúcia de uMA única )pois ser mais claro nisso é pedir a carta violeta e puxar o gatilho(. Cansei de me sentir culpado por não escrever Ricardo da maneira certo - não sei e ponto! - assim como me cansei de servir de aquário: pasmem, o vidro quebrou e o peixe agora está se contorcendo ao seu pé - mas mesmo assim, N-A-D-A. Cansei de esperar por um risco na parede...aí o vai: ||| L |||

Verme, tu, vamos! É liberdade, também, fechar-te e ver a escuridão - fica com ela, não quero vê-la, guarda; lembra que um dia esse breu não mais se conterá no cubículo de tua mente e aflorará, não tema pelo pior.

Verme, verme. Roa - nem isso será que consegues fazer? será que, teus dentes, foram-lhes arrancados na infância? Viva, coma, reproduze-te - é difícil pedir wits quando só o que se têm no mundo são drogas, drogas, drogas e um pouco de conhecimento )argh, que nojo!(.

)Ôpa, a vida é uma realidade que inexiste.(

Ok, admito: sou um hipócrita. Um verme de quinta categoria: rôo, algo, drogo-me a cada mordida. Sabei, um pedaço, pequeno que valha infinitude da possibilidade, é o pecado, o primeiro que se rói é pior que a tragada de um cachimbo divino - minto, cada fatia de carne que mastigo se conclui com um pouco de LSD. Putos que sois. )sabei que de dia sou tão verme quanto vos e que à noite existe como um vôo na brisa, não? pois relembrai.( Puto que sou. Sempre que a noite chega - maledeta, mantém sua perseguição? não cansa? - e minha viagem pelas estrelas se inicia, vejo, ao fundo, no Orizonte, logo ao fim do túnel - vede, agora? se não, nunca mais o vereis - um pássaro estranho, amorfo - morfético - e branco. A cada segundo que passa no relógio, sinto-me que me aproximo - ou que se aproxima, tantufas - de sua existência. Com a experiência dos anos, aprendi que - atarantai-vos - só podia sair desse nefando túnel, só notava o fim do Orizonte quando todo o vermelho da alvura daquilo evaporasse. Creio em coincidências; sempre que o pássaro caia ao chão, a manhã estava nascida, e àquela carne, repudiosa, assassina, queria distância - era meu prato predileto esse pássaro, porém comer minha própria vítima me é retropofágico em demasia.

Não me desconcentrai! Vós, alimentados por pílulas vitamínicas e comprimidos de sa)pis(is)ência( minerais, ignoram o instinto selvagem: libertai, comai da carne sem rancor, pois dessa é que surge todo o saber - credes n'índios ou n'outros? - e toda liberdade.

Como já dito, é o mundo dos vícios e das drogas, drogas, drogas e do conhecimento. Quero o mundo meu. E quero teu mundo para ti.

)o não é um sim com nome outro e repercussão única. Algo muda?(

Aja, verme, como quiseres. Saiba que isso que te alimenta é, por demais, o pior de todos os sóis: cega e esquenta, agita e guia. Puto. Prefiro minha carne - e que roa!

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

_aos porcos

Então...aqui eu mudo um pequeno detalhe...mudo em partes, não o faço por completo porque a Giu já comentou sobre a borboleta, mas leiam mariposa em seu lugar, por favor!

::


Era uma vez um garotinho de dois anos de idade. Ele ficou incrivelmente feliz, quando de uma (h)ora para outra (h)ora, sua mãe pisou em seu hamstersinho até que dele saissem toda vida. Ah não, a felicidade era em saber que a dois passos dali voava uma borboleta violeta e azul, e que aquilo sim era mágico.

Hoje, vos fala o menino, filho dessa borboleta e ranhento às insuficiências.


-X-

Aliás, que texto, não?!

sábado, 20 de outubro de 2007

_amor a partir de D.C.

Aos bem-aventurados, esse narrador é um pobre coitado que pouco fala...é o contrário do discurso indireto livre, é o discurso direto livre...é o narrador que se intromete do nada, e não o personagem. Cuidado!!

Aliás, está pesado, sujo e saibam que o sexo aqui não é o sexo daí. Nada mais é tão carinhoso quanto uma transa.

Para fazer esse texto, tive 3 musas inspiradoras, uma história basal e NADA do que escrevi se relaciona com as musas tampouco com a história. É apenas o agradecimento e a redenção que precisavam sair de mim.


-X-


Antes mesmo já sabia; era ela quem tocaria o telefone, era ela quem perguntaria sobre meu dia, sobre o trabalho, eu serviria notícias e ela pagaria com telefonemas no dia seguinte. Presentava eu e mais nenhuma alma viva, era apenas eu. Nem sequer um mosquito, era o auge da agitação que eu conseguiria sozinho: aquela sala vazia, cheia da mais pura presença minha, e assim é que gosto.

Havia dois lugares no sofá preto, um era cativo meu. Outro era quiçá de uma ou outra garota com quem decidisse transar na noite anterior, nunca mais do que uma trepa, uma foda e logo estaria vazio novamente; odiava ter de dividir minha sala com pessoas potencialmente putinhas minhas, era como se fosse eu um vulgar, fosse eu um hipócrita, não queria aparentar um aproveitador, desejava ter bucetas ao meu dispor e não ter de acariciá-las na manhã seguinte, ou melhor, não gostava da idéia de acariciar o que usaria como instrumento de prazer e de raiva. Era um utilitarista. Quase um pragmático.

Ontem, assim como no dia anterior e durante toda a semana passada, ela me ligava no cume do momento meu e atrapalhava toda a concentração. Hoje - e lá tocava D.C. novamente - sua voz foi diferente: vou-me já para sua casa, em cinco minutos chego )morava a menos de cinco minutos, estava mentindo, certamente, para passar na farmácia comprar camisinhas(, prepare-se. Como poderia ficar tão excitado em tão pouco tempo? Aquela gostosa em quem ninguém podia encostar um dedo sequer estava a cinco minutos de aparecer e se entregar para o papai aqui.

Pela primeira vez decido organizar minha sala antes de um foda, essa era uma ocasião inusitada, não se recordava de nenhuma vez em que teve tempo para arrumar sua vida sexual com tanto tempo de sobra! Era um cômodo teoricamente morto, uma televisão podia ser vista à direita de quem entra e diametralmente oposta a ela, um espelho que decorava um tanto a podridão que o conjunto postava. O sofá preto de couro sintético estava entre ambas e causava um impacto entre o que os poetas representariam como a união da cópia e do todo - gregarizações duvidosas aos orgasmos que se passavam tão grosseiramente na sala. Acima do batente da porta de entrada havia um crânio de boi que ganhei do meu velho...pra atrair boas energias...demorei até os dezesseis pra saber que são boas energias. Havia ainda a sacada, aquele lugar das preliminares, onde tudo que odiava se passava - por morar na cobertura no vigésimo segundo andar de um prédio isolado verticalmente, por ser o único com tantos andares na vizinhança, ninguém de fato poderia interromper a dança de acasalamento - o gozo e o prazer só aparecem na penetração, porque as mulheres gostam tanto de nos testar se mesmo sendo eu um romântico dos Anjos - desculpe, era impossível negar a brincadeira com o nome do poeta - sempre acabo no dia seguinte esperando acordar sozinho.
Hoje arrumou a sala de uma nova disposição: o espelho ficou atrás da televisão e o sofá foi encostado na parede, dando espaço para a mesa de centro com um arranjo de rosas artificiais tão bem feitas que podem ser alvo de chutes que mesmo assim as pétalas parecerão feitas de celulose e cheias de verdura.

)Na real, até então naquele recinto que exala sensualidade só entravam varões e minhas putas. Nada mais. Testosterona reinava sobre o sêmen que impregnava partes esparsas daquele que era meu rosto à sociedade e duas lágrimas feminino já eram o suficiente para expulsar qualquer tentativa de homossexualidade em minha casa.(

Lembro-me dela numa de suas ligações dizendo que se deve conquistar uma mulher aquecendo o conhaque na vela acessa...puta que a pariu...abre as pernas logo e vamos à manhã seguinte...
declamava tão poeticamente que sentia uma flechada na parte direita do peito, um toque de poesia antes de um encontro desses é sempre bom como média - se bem que...que falsidade e quanta hipocrisia, só queremos uma trep...! Batem endoidecidamente a porta, com tanta intensidade que se abre como se um fantasma girasse a maçaneta, a brisa passa a tomar conta do corredor que se criou entre o mundo lá de fora e sua casa: quase como os podres e malditos cineastas produzem sua protagonista, D. se postou lá, na entrada de sua casa, cabelos ao vento, louros e macios como sempre foram, levantava suavemente seu rosto, unicamente para manter um ar de suspense que só me dava ainda mais tesão...boa noite, querido. - pronto! tô dentro!
Vem me cumprimentar, sobe os dois degraus que separam o hall de entrada do corredor inicial como se estivesse em uma passarela a desfilar. Não é que aquela gostosa veio mesmo!! Inacreditável!! Sempre imaginem ela tão fora da minha, aparentava sorrir falsamente para cada ladainha que saia da minha boca...mas, caralho, ela tá dentro!

Parecia andar em câmera lenta, mas finalmente chegou aos colo dele. Seus braços o abraçavam de modo reconfortante, passava-os pelas axilas e seguia seu passeio com as mãos a caminho de seus ombros, não existe abraço tão confortável quanto esse, verdadeiramente. E ele? Gostosa...vem pro papai que essa noite vai ser inesquecível!
)pois de já a depois, tomarei conta eu, o narrador em ofício, o outro estará ocupado por demais, deixemos.(
Suas mãos enormes puxavam alguns fios de cabelo que desrespeitavam o penteado para trás, buscando dominá-la. Sem hesitação, e sem exitação, pois também. Ela afasta seu corpo do pecado e notava-se uma proximidade inexplicável entre os dois ainda assim; um rosto de medo e outro de compaixão e simpatia, um de virilidade outro de feminilidade, um olhar cego e outro iluminador. Malditas antíteses que existem, aqui seria demais se deixassem de aparecer?
Vim aqui porque estava tão sozinha em casa...quero sua companhia...e não só ela, posso tê-la? Pode ter-me todo, diz-me o que quer que te faças, faço o que pedir. Quero ir à sacada, que tal?! )estamos dentro!( Pois demora a pedir, vamos afinal!!

A noite estava escura como é resultado natural de uma lua crescente ainda nova e de nuvens densas e ventosas de inverno. As palavras que saiam de ambas as bocas aparentavam tocar-se no éter entre os dois, pareciam acasalar-se, previamente ao que aconteceria posteriormente. Chocavam-se sem se tocar, chocavam-se pois os sons intensos dela pareciam opostas aos dele, frias e sem emoção. Gradualmente, cada "querido" e cada toque que os dois trocavam não era a matéria que se enrijecia, era o que ambos tinham: absolutamente nada além de um coleguismo rudimentar. Dessa vez seu passar de dedos atiçava todos os pêlos do braço dele, não por prazer, ainda não sabia o que lhe ocorria.

Terminei com meu namorado. Sinto-me um cachorro. Meus pais acham que sou insuficientemente boa para eles. Estou confuso com que quero de minha vida. Minha última transa foi há três meses, estou sedento. Quero ser escritor. Eu também. Quero ser ativo. Quero colo. Eram dois rostos na mesma sintonia, eram dois olhos que conversavam sem intermediação da voz, eram carinhos que se bastavam.

Uma conversa que durou boas três horas. Tá no ponto, ao ataque. Inclinou seu rosto levemente para frente, esperando para ver se havia resposta dela, e não houve. Avançou um pouco mais. Ela desvia o olhar, repara a paisagem, espera ela retomar sua posição de origem e vai atacá-la, e o faz. Um lábio encosta o outro, as salivas se misturam grosseiramente, o abraço se torna mais quente, uma bunda é um começo apropriado para se adentrar.. vão ao sofá preto rapidamente, esperando pelo prazer, ele se torna um insensível, derruba as rosas e partem para o que interessa...ôpa...não é que tocam justamente nesse momento a campainha de modo frenético? Ele sai correndo e chega, nota, é Ela, com cara de prenha, com olhar de vontade sexual, de quem está na seca há pelo menos seis meses, voltava de um curso que fez na Arábia Saudita, estava há sete meses sem, saber o que era prazer. Ele, sem ações, é beijado e responde de pronto, aquilo sim era selvageria. Era o que ambos queriam. Os dois se fodem sem o menor pudor, a vagina, já arrombada , não é problema algum para o já fadigado pinto dele. Mas...e a outra? Quero dizer, e a primeira? perde-se para a outra e se torna a outra? Sem explicação? Sem nada? Sem beijo nem vela? Duas lágrimas caem de seus olhos, lágrimas essas que nunca foram descobertas por nenhum dos outros dois ocupados: ela sai de cena desnorteada, corre como nunca, para, pelo que pensava, nunca mais voltar.

Uma transa sensacional. Orgasmos múltiplos. Porra sujando a mobília da sala e dessa vez algo novo: às dez da manhã seguinte, o lugar cativo do vácuo foi ocupado por Ela. Agora só havia espaço para uma, nunca mais, ninguém ocuparia aquela sala senão os dois. Não que isso lhe machucasse, a foda era foda, e gostava demais disso, queria esse gosto de novidade para o evo. A tarde seguinte foi tão animal quanto a noite anterior, pacotes de camisinhas de menta, de chocolate, com espermicida, que esquenta, que gela, que dá mais prazer, que retarda o prazer...todos usados. Só faltava uma única novidade naquela tarde: ele ficar sentado e ela comandar, estava ele já todo fodido e cansado. Antes, que tal um pouco de conhaque, lindinha? Aceito, por favor! Esquentava-o na vela quando outra vez a campainha toca, entrega a dose a sua mais nova cativa e parte ao olho mágico, ver se era o vizinho pedindo que os gemidos abaixassem de volume, pois seu filho já escutava os barulhos, e isso o incomodava. Não! Era ela noutra tentativa, era D.C., chorando, com cara de reinício, com vontade de funcionar. Ignorou-a e voltou à atividade, ainda ouvindo os socos furiosos dados na porta, exigindo qualquer explicação possível ou impossível, de fato, ansiava apenas saber que seu corpo ainda sentia tesão por ela.

Voltaram à atividade como se nada tivesse acontecido, e desta vez, como prometido, com ele sentado em seu lugar cativo e ela por cima, rebolando e gemendo como se fosse o maior êxtase do mundo – e era. A dança era especial, algo novo, enfim. Algo digno de um casal que se fode sempre – e que por isso não se amam. Os olhos revoltos giram em parábola e o peito manequim 44 balança celeremente, jogando-se contra o rosto dele, deixando-o ainda mais com fascinação pelo que acontecia. A camisinha quase rasga de tanta pressão imposta na fricção, a vulva dela começa a se contrair, de modo a se inteiriçar, seu clitóris está em chamas; nele, a virilidade mostrada ao seu máximo, o abdome endurecido, o movimento com as coxas, que passam a carregar duas pessoas. Uma cena de movimento incontestavelmente prazerosa.

Fecha seus olhos como se para absorver o máximo de cada peristaltismo, passa a viver unicamente pela emoção e pela sensação que lhe vem do roçar entre as carnes, uma animação estimulante que se torna rotineira e plenamente querida. É mais do que uma simples evocação do contínuo; é a sensação contínua de prazer, é o sentir tanto o tudo que esse se torna nada...e abre os olhos: onde se meteu? O gozo ainda reina em seus pêlos, mas cadê ela? A sente, sabe que lá está, mas não consegue enxergá-la. Sabe que ainda transa, sabe que se masturba, sabe que está só, mas continua.

Agora a sala está cheia. O sofá preto é plenamente preenchido por ele, deitado, refletindo sobre as estrelas que consegue ver através da porta de vidro da varanda. A televisão desligada, como de costume, um livro pode ter seu lugar tomado por uma revista de mulheres nuas. Hoje o que faz é consertar o vaso de rosas, ainda sabe que aquele foi fonte de muito prazer já e por isso o quer novamente na mesa de centro. Os cacos eram muitos e diminutos, a cola não era das mais manuseáveis, suas mãos trêmulas não colaboravam, mas gradualmente o vaso retomava sua forma original, levemente distorcido – distorcido é deveras forte, diferente, nem para melhor tampouco para melhor – e o que dantes viva no formato de uma Catedral brasiliense agora aparenta uma loura curvilínea na praia de Ipanema – com o seu balançar que é tão poético. Faltam duas peças, as de mais pesar e dificuldade.

Para. Hesita na tentativa, suas unhas já coladas umas às outras esboçavam um movimento de separação, seus olhos derramavam suor em bicas, mas aqueles dois pedaços insistiam em não se unir ao todo ainda. Puta que pariu essa porra...pensou em C. – quanta formalidade a partir de agora não passa de um movimento natural de afastamento – e no sexo que perdeu com ela, puta merda, era uma foda foda em potência...que se ferrem os cacos. Vou – e vai – ligar pra ela. Dois toques bastam; ela atende com um Alô alegre. Oi, sou eu. Oi, querido. Vem pra cá? Ta bom – essas palavras saiam levemente mais agudas do que sua voz naturalmente o faz, parecendo um descaso e que de fato não o é – em cinco minutos chego.

Cinco minutos, tempo suficiente para terminar a reconstrução do vaso. Era o que pensava, era o que não fazia. Em cinco minutos uma única peça quase se auto repôs, e só. Tremia ainda – quiçá era o tremor da falta de sexo. Dessa vez nada de a porta bater, ela já entrou sem mesmo pedir – nem precisava mais, que respeito devia ela a ele? C. era alvo de um uso animal, e mais nada – mas sabia que o usava para o mesmo. Vamos logo...tenho sede de tesão, preciso de orgasmos. E o empurra para o sofá.

)Não se carece explicar a cena, todos a conhecem, até mesmo os virgens – pois esses são mentirosos.(

Findado. Cigarro. Fumaça. Cola para recompor o vaso em sua perfeição. Agora sim, seus dedos estavam seguros, seus olhos fixaram-se sem muitos problemas, o caco estava por fim vencido. Do mesmo modo, o sofá estava vencido, o tabu se extinguiu, a lei do silêncio e do vazio acabava sem dor – ele por contrário gostava disso. Todo segundo estava o sofá preto ocupado por ele e por C., não necessariamente em corpo e osso. É verdade que não era sempre e tampouco toda noite que a transa acontecia, e não era isso que tornaria ambos felizes, mas sim uma foda prazerosa na noite anterior e se fosse imperativo e forçoso, um se masturbava, a outra batia uma siririca, algumas – muitas – vezes isso era quilômetros mais acolhedor e reconfortante no táctil ao prazer sexual em si. Sabiam que teriam sempre ao assento ao lado um putinho ou uma vadiazinha com que poderiam roçar carnes novas.

)Agora não acompanho mais a estória do casal, ele provavelmente vê beleza no vaso sim, sabe que pode haver um quê de amor na transa. C. é certa de que a proteção da virilidade dele é indiscutivelmente o que a prende. Contudo, será que um dia chegaram os dois a ficar um dia à noite a passear nas vielas e nas alamedas da cidade acariciando um a nuca do outro? Será que houve um beijo com amor? Será que o toque deixou de ser erotizado? Isso não é uma história com um final feliz de conto de fadas, é puramente a realização de uma transa que foi abortada antes mesmo do nascimento, esperam, os mais românticos, que houve sim a descoberta do amor. Sabem, os mais sábios, que isso só será possível quando ambos cessarem de pensar em prazer próprio e deixassem de se masturbar: a vida é vivida, pois assim, nos momentos de dor.(

domingo, 14 de outubro de 2007

_pena, suas próprias

Antes, pra facilitar a vida de vocês, vai um poema do Décio Pignatari para vocês refletirem...E em seguida, o famoso...

LIBERDADE

ave sem asas

se vou dá-las

voa




-X-

Pena, suas próprias

À procura do outro lado

O que se tem de meritório é que a Pena, ainda que de modo penoso e célere para a memória já desconhecida, porém vagaroso, persistia em dançar com o vento central que a arrancara e de modo repetidamente primário e incipiente mantinha a paixão florir. Até

Memórias de um Esquecimento, já diria Thais Echeverria. Entretanto, diria ainda Bataille, ou se é essência ou nada se é.

Àquele maldito vento, um sentimento de dolo do comodismo e de arrogância. Onde ela está? “Aí, Zé, ôpa”, voaria Guimarães Rosa. Perdida. Uma inspiração bastá-la-ia. Uma imaterialização prática. Uma idéia. Conquanto o indeferimento pudesse doê-la as entranhas, aquilo Seu o chamava.

A Pena mal havia caído e se libertado, finalmente livre para crescer e ser, sozinha, algo maior do que era antes em seu conjunto. Há pouco, levemente tocada pela tristeza e pela dor da pressa, das escolhas e dos itinerários que foram tomados, dançava continuamente nas nuvens, recortando ao alento dos ventos que a costurava no céu formando os mais belos caminhos e mais exóticos desenhos que jamais imaginara poder criar, a Ave voava e cantava timidamente à cidade, embelezando um pouco o cinza e o amarelo. Cores. Às cegas, rumava ao anoitecer ignorando a escuridão e atentando somente ao seu vôo solo, belo pela espontaneidade, largava-se, seu corpo dançava um tango, um samba, uma valsa e uma polca, cada uma ao seu momento, jogava-se ao sabor das penas, que por ela nasciam, e do vento e a tal azo cortava as nuvens a seu bel-prazer, sutilmente, e com brio de não errar, planava o dia completo e se perdia com os vendavais de Março. A Ave se cansava de fastio ao capo de sua vida florestal e ansiava as frentes frias e quentes. Cantarolava, regorjeava para si e isso o fazia inteiro, misturando experiências em conjunto às experimentações e escolhendo e escrevendo sua sina por sua escolha, livre como foram as cavalgadas de Sete de Ouros e os relatos de Bento Santiago. A Ave, por eterna irracionalidade e anúmera submissão, voava com dificultosa normalidade e rasgava os céus prazerosamente com um movimento ainda desorganizado de suas asas e penas, os ventos benquistos eram os de maior medo, de maior escala, e como um músico, um astro de Rock nos orgasmos prévios, de previsão do que se sucederá, teme a incompetência como almeja o sucesso, treme com a nota e soergue unido à multidão, numa ligação espiritual, um pedaço de imortalidade. Desafiava o amanhecer e venerava o pôr-do-Sol alaranjado encorajador. Do amarelo ao laranja, passando pelo vermelho, um dia morreria e nasceria na memória do desbravamento dantes.

Num dia nublado, com nuvens grossas, quase que infindas, em que seu caminho natural seria barrado pelo calvário, a Ave, temerosa e oportunista, se despena com os vendavais – que, ainda fracos de ar e ricos de potência, assustavam-na – lançando aos ares e à toada da cavalgada toda sua sustentação para seu vôo. Caia vertiginosamente contra a montanha.

)Um instante de negação toma conta do Tempo e tudo o que se via era a pintura natural do caminho do Sol , seus raios penetrando violentamente contra as inocentes nuvens – amareladas não pela idade mas sim pela esperança de se completarem com as penas voláteis e com a feição inocente de uma Ave – forte e soberana – que nada busca senão o outro lado , aquele que apenas os Grandes conseguem . Uma busca de vitória e de instinto . O Tempo pára e nada mais é importante senão a cena em si e a beleza da arte . No amontoado de penas , que se faz perder a lógica e a continuidade , o instante em si é a vitória.(

A Pena, recortando e redesenhando à sua percepção a alvura do céu, voa sutilmente e envolve sua submissa Ave. Sobe, desce. Ascende, transcende. Retoma, redoma. Nessa circulação invisível à imensidão do entardecer, a Pena, quase que com vida própria porém mútua aos ventos, às Aves, às nuvens e ao vôo, faz-me lembrar que nada é maior que o detalhe: ainda as penas voavam descontroladamente, quase que ordenadamente – trouxeste a chave, perguntam.

Eu teimava em cair. Não compreendia a tranqüilidade com que tudo se mantinha em movimento – espontâneo à Arte do que é natural – e porque raios tudo aquilo fluía de modo calmo. A mim restava a serenidade. Deixei-me.

Só quando me quietei para apreciar o fim de algo que nem havia começo – sim, uma atemporalidade como são todas similares – de modo a notar na dança do caos – tal qual se é na realidade da poesia – a beleza.

)De muito aquele momento me parecia com o que se escreve aqui, um aparente horror – assim é aos desavisados – que maquiava o que de ímpar se queria esconder. E mais um momento o que era movimento parecia pousar na pausa imaginária e tudo aquilo, o Vento, parecia agora uma mão que me levantava em união ao meu conjunto. A Pena, aquela que sozinha nada é e comigo se é auto-suficiente, estava à parte; dançava em volta da Nuvem e dentro dela estava. De súbito, um bando de aves surge ao horizonte, iluminados pelos feixes solitários de luz que passavam às nuvens que cobria todo o céu – eram alguns hábeis que conseguiram adentrar no mundo ininteligível. Cada um voando sem regras procurando o outro lado. Procurando voar livremente. Isentos de culpa, sem errar e tampouco sem acertar, ao sabor do alento, ao sabor do vento.(

O segundo – eterno aquele – em que subíamos foi registrado nas nuvens, a Pena escrevia estranhezas em um tom azulado violeta para que lêssemos. E lá se imaterializou e imortalizou.

Eu, a Ave que havia feito tudo aquilo, vitorioso – mesmo que condenado ao esquecimento – sabia que era: ainda que imperfeito e impreciso, todo aquele erotismo fora criado sem que se fosse penoso. )Todas as nuvens foram contaminadas pelas penas que eu decidi onde e como posicionar, à oscilação dos ventos de outono. Eu ainda caia, mesmo que sem notar, sem me deparar com a ameaça que estava defronte a mim. Os Ventos existiam, mexiam comigo, no entanto não o que deles precisava já fora laborado( Fiz Arte: o bem fazer imprecisões que ininterruptamente são apropriadas àqueles que arriscarem transpassar a continuidade.

No chão, caído e deslumbrando toda a beleza dos céus e do meu pedaço – aquele que fiz –, calo-me e assim permaneço horas – julgaria minutos ou segundos – até que algo recomeçasse.

Não tarda, voltam-me e crescem as penas e o Vento volta a uivar. Pronto a voar estou. E assim faço: naquela escrita ininteligível e plenamente verdadeira para mim e para todos diferentemente, volto a bailar uma dança nova, como essa que vocês acabaram de concluir.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

_a calmaria

)estou no labri, com um teclado estranho...se sair algo errado...não explicarei...(

-X-

Como já sabem, o natural é que tudo caia pela força dos ventos da primavera. As folhas, as penas...tudo.

Em um ponto preto na folha branca aparece aquele mosquito voando vendado, vendo nada, voltando para a terra da calmaria - por puro insinto, sem qualquer aspecto de humanidade, cansou-se de forçar suas asas contra os ventos a caminho da proteção do concreto das nuvens: estava temendo tudo. A eiva crescia em uníssono ao seu vôo..não, pior: nem crescia nem decrescia, parava.
Sem juizos nenhuns, o vôo tornou-se tedioso.

Estático, o mosquito começa a cair para cima...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

_o desacordar do feto


)deixando claro: é um possível primeiro capítulo de um futuro livro...quem sabe...e eu reli...mudei...sempre acontece isso, então decidi logo publicar, antes que eu ache que o texto é novamente incompleto...segue:(


-X-


)A primeiríssima vez de que tenho reminiscência do meu contato com o onírico data de Dezembro de mil novecentos e oitenta e sete, não podia fazer nada senão pensar nessa época, ou dormir. Era disso que me sustentava; do meu sono e do meu ser íntero-anterior pensante vivia mundanamente. No período de maturação, na reta final para o desabotoar de mais um, fui pego com um sonho em verdade importuno que azucrinou minha existência ad extremum que teremos: boiava minha fisionomia atual afronte de mim, tatuada nas costas etéreas do aeon, de modo tal que meus movimentos manuais podiam deformá-la e desfigurá-la ad libitum, tornando-me, pois quem duvide, em um pedaço de papel amarelado pólen soft com rabisco de carvão. O que mais assusta era, entretanto, minha dupla presença, um sensível, outro fugidio, um suscetível a danos, outro inabalável, um correto, outro externo, um de gelo e outro de água. Brincava comigo mesmo, pondo minha forma em xeque e desenhado-a ao alento do vento – sim, ventava demais – e do acaso, levando-me á descrença e ao medo de transfigurar-me com intensidade tamanha que seria impossível retornar-me à física. O silêncio da cena era gritante, o movimento em si havia se tornado um grande fato, até que uma moça apenas com silhueta monstruosa visível me paralisa com um simples toque, Saia do meu mundo, dizia de modo ardil como se tivesse invadido a si mesma, Saia antes que o buraco se feche. Não havia visto o buraco que havia anterior ao vapor e ao orvalho que compunham meu reflexo, não reparei por atenção demais aos desenhos que fazia, É grande suficiente para que consiga sair, vá! e dizia e redizia inúmeras vezes para que saísse. Gostava tanto da situação, confortável e divertido era poder ficar eternamente brincando – no sonho – que o pedido caiu em tom de brincadeira. Vá, vá,vá,vá.

O tom habitualmente maternal modificou-se com a nova situação, era notório já um intróito de surpresa em sua voz, gradualmente mais doce e conformada – até sua silhueta tornou-se feminina e delicada – que serviu apenas como inibição de qualquer movimento meu. E parei lá, naquela posição, até que o buraco se fechasse por completo. Aprisionei-me naquela cena, queria de maneira nenhuma fugir-me, o que agradou, como era de se esperar, a silhueta, que passou a se entreter ao lado meu com os rabiscos e com as luzes e com o vapor que parecia ser tão bastante a nos dois. O tempo passava e um servia de modelo ao outro, o um decidia assoprar, gritar, cantar a fim de ver qual seria a nova conjuntura. Assim repetia-se meu sonho vezes e vezes.

)ainda no ardente houve uma vez que o movimento habitual de puerilidade tornou-se mais crescido e adulto, o DeviR, o OnduLaDo ConSanTe Se TorNOu TãO iNtEnSo E vIvO qUe EsQuEcIa-Me Do TeMpOoOoO. Ah... ... ... ... finalmente nosso elo se selou ... não havia mais modo algum de negar que tivemos uma criação nossa...: uma pena surge presa a meus fios de cabelo, de modo a fixar-se neles, sem penteá-los e torna-se um ícone que perduraria sempre em meu mundo dos sonhos, e somente lá, até que algo mudasse a ordem do universo e levasse também ao material.(

Com firmeza de uma anedota, no quase-fim de janeiro do ano seguinte, em pleno sono, empurraram-me para uma brancura que tomou lugar do preto que havia, tapas me davam como se eu houvesse pedido isso, a silhueta maternal mantinha seu vozerio reconfortante, brincava sem notar o drama pelo qual estava passando e cada instante mais que ela se distraia e se alegrava com o vapor, maior ela ficava, e não parava, . Ela se tornou o mundo e reciprocamente. Foi aí, então, que, encorajado pela sabedoria de que a natureza já era conhecida minha, abri meus olhos pela primeira vez e chorei. Chorei com excesso, até parecer sair sangue dos olhos e sujar todo meu corpo ainda roxo, Ai que lindo, seguido de choros de desconhecidos, sustos pós-sustos.

Já acostumado com toda aquela incerteza que pairava sob meus olhos, compreendi o que acontecia: se toda aquela diversão era o que me alimentava durante tanto tempo, agora que a circunstância era diversa, deveria reencontrar-me com minha silhueta e voltar à brincadeira.

Hoje, já sei que alguns detalhes faltam ao esclarecimento do sonho. Porque não via o mundo plenamente, porque o vapor era eterno, porque aquilo era tão perfeito se, na realidade, faltava-me algo, faltava-me companhia, carecia de algo mais que ainda desconhecia. Todo esse questionamento é fruto de muitas manhãs assustadas em que o sonho se repetia e se desaparecia sem aviso prévio. Gradativamente, tornou-se um pesadelo toda essa questão de correr atrás do passado, de conseguir encontrar minha primeira grande amada. Uma incumbência imaginária que afligia meus dias.(

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

_a respeito do buraco da fechadura

No dia em que escrevi o maldito texto abaixo, achei que era minha mais nova "arte".
Hoje decidi relê-la. Devo admitir...está disconexo, monótono e tudo mais...tudo de ruim.
Horrível.
Asco.

)Mas é que hoje eu acordei com tanta vontade de dormir...(

O pior: o silêncio.
Querer ser o mosquito pousado no buraco da fechadura é uma realidade impossível pra mim. Poder observar todo o mundo através de um estreito é incoerente com a minha proposta. Achar que tudo é concebível foi estupidez da minha parte. Pior aqueles que acham que só a estupidez é concebível.

Prefiro continuar com meu ódio pela irrealidade dos diretores de cinema. Prefiro continuar underground suficiente a ponto de ninguém conseguir me ver de fato. Mentira. Quero muito ser notado, quero estar nos holofotes. Quero estar sentado no Sol do meio-dia. Quero que saibam que estou lá, aguardando o dia em que o Sol exploda e que inúmeros feixes da luz brilhem no céu, iluminando todos.
Imaginem: ver-me da pior maneira possível, obscuro pela iluminação. Que dia!! Aguardem. Nem que seja depois da minha queda final, um dia serei observado daqui e estarei lá, sentado no Sol, aguardando o futuro, aguardando que o nada ocorra - afinal, nada farei mais...

-X-
Minha caligrafia sempre foi meu problema...Hei-de amar uma pedra....que título...prefiro "encontrei de tudo no banheiro, desde uma belíssima e esquelética Átropos até o asco da volúpia a meio de fezes e urina." ou então algo do tipo Mas se os pombos ficam. Na real, prefiro o que o dia me propõe. Prefiro o que eu prefiro preferir. )Ser tautológico é a explicação daqueles que não compreendem nada de palavras. Ser repetitivo é ser ignorante linguisticamente.(

Certa vez, aos poucos anos, tive de fazer caderno de caligrafia. Cem vezes a palavra borboleta. Mais cento e vinte vezes a palavra purificador. Duzentas vezes a palavra Ricardo. Pois é. justamente meu nome era o que eu menos tinha capacidade de escrever...não sei...não me sentia bem nele...na realidade, nem ele gostava muito de mim. Com o tempo fui mudando de nome, mas mesmo assim, com dó, mantenho Ricardo como nome oficial, só por questões burocráticas...Mas um dia Hei-de amar uma pedra...ou então Hei-de gozar do Asco da Volúpia...ou Hei-de não ser Ricardo. Burocracias...

-X-
Toda essa ladainha de silêncio, de caligrafia, de Ricardo, do Sol, da minha queda, dos espectadores e da volúpia ascosa serve para mostrar que, no fim, eu Hei-de gostar de alguma coisa duas vezes na minha vida.

Acho que isso acontecerá quando eu cair de um penhasco. Chorarei do mesmo jeito que quando aquele Dr. Ricardo bateu na minha bunda e me fez chorar como um bebê indefeso. FILHO DA PUTA. Agora aguarde que eu Hei-de nascer para vocês.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

_pelo buraco da fechadura

)Tudo que aqui se escreve deu-se nos instantes em que escondia-me atrás das portas e espiava o mundo a minha frente.(


Sempre quis fazer como nos filmes: aprender a ver pelo buraco da fechadura, na minha juventude, o que as meninas faziam no banheiro, e na minha meninice, como era tão diferente a minha atitude em relação aos outros - um vouyerismo latente nosso. Questionei-me inúmeras vezes, como não iria?, porque razão os filmes poderiam ser tão inverossemelhantes e falsos - tão mentirosos quanto um retrato; quase que um auto-retrato. Era cada vez mais explícito para mim que era simplesmente impossível poder observar através da porta. Como isso me irritava: não o fato de minha incapacidade de pós-ver o que se escondia atrás de um pedaço morto - no sentido biológico - e ao mesmo tempo tão vívido; irritavam-me as mentiras dos malditos diretores cinematográficos que conseguiam expor uma cena completa de algo além do alcance visual apenas com o zoom da câmera. Odiava saber que nunca ninguém conseguiria - e conseguirá - tal feito: odiava-lhes ainda mais.

Sentia-me frustrado com a idéia de que eu era pior do que um aparato tecnológico. Pior, sentia-me vencido covardemente pela frieza com que tratavam o zoom: lento, gradativo, aberto e simultaneamente microscópico. Como gostaria de ser um mosquito para poder pousar eternamente no meio daquelas fechaduras...e deliciar-me com tudo aquilo que somente eu podia ver. Assim como meus amigos, era extremamente fantasioso e possessivo. Queria tudo. O "meu" e o "eu" valiam para a vida do mundo.

Eu tentava - juro! -, mas tudo que conseguia pensar era na tristeza de não ser capaz de ver tudo. Queria ser infalível. Queria ser mágico. Queria ser tão único quanto aquela bela menina, de cabelos de cor que ia do loiro ao castanho e ruivo meio encaracolados nas pontas e lisos nas raízes. Como admirava seus olhos, brancos como nuvens e ao mesmo tempo repletas de cor e de sabor e de saber, traziam um sentimento de plenitude único, um sentimento de realização. Estranho era notar que isso me agonizava, me doia nas entranhas. Quiçá era novo ainda - já fazem 4 anos desde esse fatídico dia. Oh, ó que belo seu rosto de adolescente em mudança, cada momento uma pequena alteração: uma espinha aqui, outra acolá. Sei sim, apaixonei-me por aquela garota e por sua intactibilidade. Era jovem demais e já idealizava garotas...imaginem meu futuro, que triste. Preferia ficar horas namorando aquela dona de minha razão a ler os best-sellers infantis, achava melhor poder eternamente me aconchegar ao seu lado do que tentar voltar ao enigma da fechadura - mesmo que tudo que via fossem especulações.

Mas não, algo me incomodava e me punha sob o risco mortal de cair de meu posto: outros viam bisbilhotar a minha garota dos olhos. Enraivecia-me. Como pode? Porque eles conseguem e eu não? Não entendia a razão de ser inferior - era de fato.* Voltei-me a considerar a situação: mesmo sabendo da presença dos outros, reparava que seus sorrisos eram mais retos, suas gargalhadas mais escandalosas, enfim, diferentes. Como? como? como.

Depois de velho na medida do que passou – e inda novo na medida da Vontade – consegui compreender que o que víamos através daquela peça de madeira humanizada era o que queríamos ver. Partindo-se da consideração de que não se pode ver a cena por completa, fica óbvio dizer que o que será visto é conseqüência do bel-prazer do intruso.

)Aguardem vocês: certa vez, em uma das minhas viagens a Portugal, vi, em um restaurante, José Saramago, sobrancelhudo, a caminho do toalete. Acolhi, certamente, o convite explícito: venha-me ver, ou então, venha me ver. E fui. Assustei-me: encontrei de tudo no banheiro, desde uma belíssima e esquelética Átropos até o asco da volúpia a meio de fezes e urina. Vi um pastor ainda mais bondoso que deus. Senti que ele era Sísifo – vi que ele estava em meu corpo ou eu no dele, que seja.(

Infelizmente vivemos num mundo cinéfilo. Pena não acatá-la. Hoje os mais cegos são os que mais vêem e os que menos observam. Hoje se inverteu a posição do Leste. Ou pior: não mais há a escolha singular, só a escolha da conveniência.


)como narrador calado, porém onipresente e independente de meu deus criador, digo-lhes um ou dois segredos, dependendo do ocaso, que são mais importante do que o já mostrado. Trata-se de uma psicose nervosa ocorrida durante os parênteses anteriores. De fato, desde a abertura dos parênteses inicial.

o primeiro segredo é a falha, a eiva do escritor, marceneiro, que, enquanto escrevia penosamente - sofria incessantemente câimbras e dores em seu braço...exercício divino ou humano, que seja...dores que machucavam, mas que, em ato, nada muito no percurso mudaram - esse pequeno diário subjetivo e de validade nenhuma, fechara a porta de seu recinto. E o fizera sem aviso prévio, o fizera na calada da noite - aqueles que com ele moravam estavam na atemporalidade – da maneira mais estúpida: batera com vigor fálico a ponto tal de toar uma canção – aos acordados – ou um barulho – aos dormentes que relaxavam em seus colchões de penas ordenadas e que nunca receberam o toque do vento. Uma sonoridade indescritível que serviu como chamariz – cavalar e em demasia – para os que moravam consigo acordarem e tentarem entender o que se passava.

Os curiosos e os bajuladores correram como formigas que se escondem da chuva verãnal para descobrir o que havia de fato. Aí acontece a metafísica desta dissertação: cada um a seu momento espiava pelo buraco da fechadura a cena interna e presente ao escritor. O primeiro passo foi tímido, o segundo mais confiante, o terceiro, desavergonhado e claramente desrespeitoso – quem? – e assim eram os olhares.

,ele se molesta, ele reza, ele faz festa, ele solta fezes às, ele tapou o buraco, eu escrevia, ele fugia. As respostas para o que ocorria atrás da porta variavam de cada olho. Como, perguntariam os céticos, e Claro, perguntariam os indecisos, e ..., confirmariam, incisivos, os alguns viajantes que passavam a noite em sua casa.
Ainda não lhes foi esclarecido o segredo: aqueles que moravam consigo eram cegos no ócio e observadores dos mais apurados quando interessados. Morava no manicômio.(



)como autor, deus do mundo do não-não, o crucrilar é o processo do sucesso. O recital com a Orquestra é o insucesso dos outros. E eu perco quando fecham os olhos.(




*lê-se um borrão nesta região

terça-feira, 24 de julho de 2007

_crucrilar-se-ão? o mosquito e os olhos

Antes de começar a papear, acredito que as armadilhas ainda não foram decifradas...Outro aparte, o título é literal!!
Isso foi um sonho que se tornou isto daqui:
)sem medo da opressão causada aos bem-aventurados vencedores que se preocupam com seu próprio amontoado de letras(

-------X-------

)Pois imaginem vocês: o autor desta desordem decidiu, por falta de inspiração, pôr no intróito de seu poema como o céu estava molhado, como o cinza matinal parecia gélido, como - olhem o perigo! - as nuvens pareciam escassas e os ventos em nada se aproximavam com os das campinas, ou dos desertos. Por escolha minha, bani esta introdução isulsa e vamos ao fim, finalmente! Ou ao começo, por fim!(

Naquela sala interna àquela nuvem da introdução, um mundo dentro do mundo surgiu, disso todos já compreendemos desde que o Grande pôs um espaço, um completo vazio, onde antes nada havia. Um relógio de acrílico fumê flutuava em alguma posição vezes incômoda, vezes insossa, vezes multiplicada. Ulteriormente - em questão de sincornia - à criação do primeiro vazio, vê-se - o verbo existe apenas para traduzir a idéia, uma vez que, factualmente, o que ocorre é que se é tão pequeno, tão insensível que apenas se imagina haver - um mosquito insignificante e marrom vívido - já ouviram falar de que quão mais sujo, mais se tem noção da limpeza ou contrariamente? pois bem, assim era a situação - destoava do branco interminável da sala, uma alvareza que deixava tudo imensurável, o que se imaginaria naturalmente.
Parem vocês, aventurados, e se deparem friamente com a situação. Calem por alguns minutos para ter total conhecimento da importância do que lhes falo, fechem hermeticamente seus olhos, parem de tentar aprender o que é natural. Em um relógio móvel, flutuante e transparente, pousado em algum ponteiro está um mosquito insignicante e de exímia importância que barulhava com suas asas, um zunido crucial à vida daquela sala - não tão crucial quanto à existência do carapanã. Decerto consegue ver a sala em sua totalidade ou quase isso: não vê a si prórpio, imagina-se como é apenas pelo barulho que faz, não há onde se refletir, não há onde se encontrar.

Às gotas, com o sucesso da cena única - onde mais se encontraria tal imagem do imensurável com um relógio e um mosquito colorido diante de um mundo infindo? - surgem, além dos tijolos das paredes da sala, já há tempos existentes, olhos curiosos, tão alvos como o restante da sala, uns grandes, outros menores, outros falantes, outros ouvintes: todos espreitam que zunir especial aquele mosquito fazia, assim como que gesticulações, que imagem o mosquito trazia! Que cena!!
Finalmente, uma outra ferramenta de nosso pequeno inseto para arquitetar como ele é: os olhares de outrem. E reciprocamente, os olhos imaginavam como eram a partir das intensidades dos zunidos soltos pelo cômodo.

Um último visitante surge: um grilo - tão violeta que desalinhava-se com o marrom e com o branco dantes - cujo crilar pode ser traduzido como cru cru exibe sua música, atrapalhando - afinal, ele ainda é jovem e pouco sabe ordenar sua canção - a melodia do zunir. Alguns olhares repudiam a união, outros, mais sábios, respeitam o alento do jovem, que pode parecer ridículo a alguns, como pode parecer chic ou fashion. O que se tem de certo é que ao fim de algumas voltas do mosquito pela sala, o que se podia notar é uma progressão, levemente harmônica, entre ambos. Um caminho a ser percorrido.

)Por fim, o mosquito decide voar, causando um estrondoso zonzoneio, ensurdecendo a todos os atentos olhos. Neste derradeiro planar, como se em um passe de mágica, tudo se cala, o silêncio toma conta: os muros, os olhos curiosos, o mosquito e o grilo somem, e o que resta é a marca naquela nuvem do começo deste poema que sempre poderá ser vista pelos humanos que se aventurarem a olhar contra os raios solares e a encontrar as pequenas rasuras deixadas naquela bem-venturosa e ainda inacabada sinfonia.( E é lá que deitam as notas e suas obras.

Tardará, pois bem, mas ainda retornará a se ouvir o crucrilar do mosquito.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

_da minha terra e da Cole

)Antes de tudo, olhem que genial é o Mia Couto: "Infância é quando ainda não é tarde"(

Sem literatura e dificultismos por hoje...

Olha só: cada vez mais ODEIO a linguagem, a língua, os simbolismos...e é por isso que progressivamente o que nasce é um amor infindável pela literatura...


Será que a distância existe por causa da incapacidade nossa?! Será que todos os preconceitos existem por culpa das metáforas que cada palavra traz?! Será que a armadilha é intrínseca à humanidade?!

Sim, sim, temo dizer.


No XVI Congresso de Leitura da Unicamp - eu fui!! o Mia Couto também!! - o famigerado rapaz moçambicano disse que a língua cria 4 armadilhas, só citarei as 4, as análises são suas:

Armadilha da Realidade
Armadilha da Identidade
Armadilha da Sabedoria
Armadilha da Leitura


Como eu amo a literatura!

domingo, 8 de julho de 2007

_da flip

)Acatando a idéia dos parágrafos(
)o título seria outro, "_do muro aos céus", mas para deixar mais claro - não coeso -, mudei-o(

"Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.

O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase."

Conhecem Nadine Gordimer? E Amós Oz? E Mia Couto? Maria Rita Kehl? Eu sim!!

---------------X---------------

O mosquito aparentemente invisível na imensidão do cenário continuava pousado em seu ponteiro - ainda não sentia o tempo, tampouco velocidades. Dois momentos distintos confundiam-no: a princípio, observava, parado e eterno, todos ao seu redor - os muros, as paredes, estava sozinho e pousado em seu relógio que desconhecia - cada um em sua subjetividade prórpia - sabiam que os muros, os tijolos, as paredes são indivíduos, assim como os leitores e as pessoas como eu e vocês? sabiam que cada átomo participa especialmente em sua mudança no todo? - cegos ou surdos estavam, como é esperado de inânimos - já viram vida fora dos vivos, tais quais os mosquitos? - , e do mesmo modo, continuava nosso protagonista observando sabe-se lá o quê, atento e simultaneamente cego e parcial - uma coruja é díspar dum mosquito, como hão de serem imparciais uns aos outros? - a tudo que acontecia, nada muito além de movimentações e cliqueclatear dos ponteiros - ainda não percebia que se movia! - ou até mesmo o arranjo das moléculas do muros e de seus cimentos e tijolos.
Uma monotonia aparente para todos os leitores e inclusive para o vulgo narrador desta movimentação em construção.

Algum tempo ficamos nós a observar o que ocorre - nada de importante para se imortalizar - na cena...uma...duas...três...quatro...e meia. Quatro horas e meia aguardamos até que finalmente algo decide se mover: o mosquito decide voar, sair da constante estagnação. Visitar, conhecer os poros do muro - sua sala é grande, já a conhece em quase toda sua superficialidade - e ver que há mais do que apenas "apenas" já conhecidos e há "ademais" e afins.
Em uma de suas visitas, planou, por uma volta de sua origem, os ponteiros. Atentou. De "olhos e ouvidos bem abertos".
De súbito, aquilo que era branco como todo o resto decidiu tornar-se avermelhado, multicolorido. Ademais, decidiu sair do lugar onde estava: um tijolo - ou era uma pena? - sai do muro, sobressaindo-se e se destacando. O mosquito achou que estava defronte a um espelho, um ícone a ser seguido, um ídolo - finalmente algo novo, algo a que se pode prezar, não mais aquela monotonia dantes.
Uma aproximação amedrontada é o que ocorre: nosso caro morosamente se aproxima da novidade, sorri, age naturalmente - calado, atento, íntegro - e ganha de troco a vida de seu ídolo - sim, um tijolo move-se quase que humanamente. Uma construção onírica - de fato, o que ocorreu não é isto que o mosquito pensou ter visto - faz surgir uma mão de fumaça e poeira, movimentando-se rapidamente, unicamente - inumanamente - de modo a empurrá-lo. A força do ato não era suficiente para tanto, era resultado de afago, de agradecimento: um carinho. Mais um pouco de arte ao convívio de duas poesias.
)Um vôo se dá! Apenas pela segunda vez isso ocorre, o mosquito sobe aos céus...volta...sobe...e é assim que a felicidade existe factualmente.(

Tempos ainda ulteriores se mostram diferentemente similares ao descrito, cada um em sua importância, mas nada aqui se torna tão importante.

)Levando ao nível ainda maior, mais abrangente, você consegue ver outras salas, igualmente quadradas, infinitamente grandes, com outros mosquitos sobre os mesmos relógios. Em dois deles - note bem, conte bem! são três! - os mosquitos pensam sobre poesias e estórias a partir deles próprios - uma metalinguagem! - sendo-as. Um pensamento complexo, assaz único, preso sob a pele das palavras em que há cifras e códigos.(

quarta-feira, 4 de julho de 2007

_sobre as mariposas e os silêncios

Claro, desta vez não será um post literário tampouco um post emotivo, tampouco um post inútil...
Será um post comentário!
Aeee!!

Vendo os comentários que as pessoas fizeram )agora reparando, só 3 pessoas comentaram....droga, preciso divulgar isto daqui!( sobre os textículos, eu me pego numa dúvida cruel: será que é tãão diferente assim o entendimento das letras jogadas ao alento do ocaso?! Aliás, será tão ocaso assim?! Como que pode existirem tantas - tá, por ora só 4 )a das 3 pessoas que comentaram e a minha( , mas acredito que com o tempo isso aumenta - interpretações? Será que esse amontoado é de fato um amontoado?! Deveria, por lógica comunicativa, uma interpretação quase que linear - quase! - variando, logicamente, com aqueles [i]quês[/i] subjetivos que cada um dá ao texto.

Sabe duma coisa?! Ou eu não notei isso, ou vocês não repararam que existe uma quase sequência nos dois posts - novamente, "quase". Meu primeiro texto está malfeito e é bobo. O segundo, carece em partes de um outro texto meu que não publiquei - mas que publicarei algum dia desses. Será que é por isso que tantas foram as interpretações?!
Ou será, ainda, que algumas de minhas metáforas - como, por exemplo, a da mariposa, do mosquito pousado no ponteiro, a do coiote, a da coruja,... - sejam um pouco exigentes demais?! Claro é que - para alguns desavisados sobre biologia ou que não leram [i]Intermitências da Morte[/i] do Saramago - uma mariposa não tenha muita lógica literária...
Um mosquito pousado num ponteiro de relógio...quantas interpretações eu consigo tirar daí?! Milhares!
A não ser alguém que tenha lido recentemente sobre xamanismo, um coiote e uma corujá não consiguirão trazer muitas informações extras...

Por favor, desculpem se pareceu algo do tipo "seus ignorantes!"...muito pelo contrário, a coragem de interpretar já é para poucos! Mas será que é por isso que cada um lê de um jeito?!

Será que Niklas Luhmann )um pouco de Teoria de Comunicação para vocês leitores!( estava certo e o que se tem são, na realidade, "arranhões", "irritações" nas caixas-pretas que somos? Será que a expressão - aquela do Rousseau com H...Husserl - é de fato solitária?!

Não me prendo a questões desse cacife...prefiro ficar na brincadeira...jogar com o ocaso, criar possibilidades. Afinal, o que existe de correto?

terça-feira, 3 de julho de 2007

_duma mariposa

Um macaco pulava e pulava. Sim, sim, com seu outros macacos, com a coruja, com o coiote. Sim, o lago já refletia o Sol. Sim, o Sol brilha.
E era noite.

U m s o r r i s o . muito bem.
U m

)O mosquito parou e pousou no ponteiro dos segundos do relógio de meu avô - ou era avô dela? - mas ainda sim o macaco dançava e dançava sendo observado de inúmeras maneiras pelo mosquito.(

E de súbito quem aparece no meio da roda - no meio, para que todos se sintam próximos dela, como a proximidade é o comum hoje - é uma mariposa. Sutil, amarela e negra. Voava sujamente - aos olhos dos macacos - e enegrecia o luar.

Hum, pensava o macaco, um dia vou voar junto dela


)finito, e aqui fecha parênteses(

---)até aqui era o original, ampliado agora(---

Repara bem: o mosquito parado, observa tudo e a todos, faz julgamentos ou apenas olhares. Nada ele sentia: a velocidade dos ponteiros não o afetavam, essa é a magia de qualquer um que atreva - e tenha capacidade - de pousar belamente sobre fino pedaço de alumínio.
Sabia o mosquito que seria atacado pela mariposa cedo ou tarde. Disso ninguém de sua raça escaparia.
Com nada se preocupava - aparentemente - e continuava a tudo observar e irreparar na velocidade ou no giro que dava.

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Hoje, eu, Borbas, tenho medo da morte, como é normal. Sei que disso não consigo escapar - ninguém consegueria.
Mas é isso que me dá vontade: a chance de ser silencioso e imortal, gritando e batendo.

_duma mariposa

Pessoas, eu fiz caca...o que vale é o que está escrito acima!

domingo, 1 de julho de 2007

_o silêncio

Alguma vez há tempos me peguei perguntando ao )borbas( o que havia comigo. Mas como eu consigo ter ódio da calada. É incoerente.
De fato, esse curto diálogo era quase que como Caleban e Ariel de Shakspeare indagando sobre o porquê de Saramago ter escrito um [i]Evangelho[/i] segundo JC - e que fora copiado de GH? - excluindo toda a essência da religião em si.

)Novamente eu surgia estupidamente imaginando os passos finais do condenado à forca. No que será que o suicida pensa segundos antes do seu vôo com a mariposa? - sabiam vocês que no instante em que a cobra pica o pescoço do condenado, um ente enorme )cujo abraço me enlaça ao seu lado( degenera a serpente )e não só ela( e a transforma em um espaço denso, denso, denso e vazio como a mente humana é? sabiam que a platéia enegrece tanto a ponto de transformar-se em uma massa amorfa? sabiam?
Dor não pode ser. Coragem tampouco. Nem medo. Satisfação só aos pecadores. E morte só aos vivos. Claro. Não sentia nada, ao fim, algum começo, pois não?(

Como posso eu ser tão estúpido em ter tanto medo no que já conheço e gosto?
Certa vez toquei n'água, sua viscosidade era ímpar, seu sal carcomia minhas mãos, ressecando-as, sua temperatura era deliciosa.
Só soube qualificar o que senti quando, minutos depois, saia do mar e pisava na grama de meu quintal, seus pêlos pinicavam a sola de meu pé - não aguentei; caí -, cocegavam minhas costas, coçava-a: uma primeira apreciação? O primeiro passo foi a quebra do que nunca mais consegui imitar. O verde se diferenciava do azul pela primeira vez.

)Nossa! Percebo agora que o que o condenado sentia era justamente aquela quebra que senti!(


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Vezes acho que eu sou meio incoerente.