sexta-feira, 26 de outubro de 2007

_aos porcos

Então...aqui eu mudo um pequeno detalhe...mudo em partes, não o faço por completo porque a Giu já comentou sobre a borboleta, mas leiam mariposa em seu lugar, por favor!

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Era uma vez um garotinho de dois anos de idade. Ele ficou incrivelmente feliz, quando de uma (h)ora para outra (h)ora, sua mãe pisou em seu hamstersinho até que dele saissem toda vida. Ah não, a felicidade era em saber que a dois passos dali voava uma borboleta violeta e azul, e que aquilo sim era mágico.

Hoje, vos fala o menino, filho dessa borboleta e ranhento às insuficiências.


-X-

Aliás, que texto, não?!

sábado, 20 de outubro de 2007

_amor a partir de D.C.

Aos bem-aventurados, esse narrador é um pobre coitado que pouco fala...é o contrário do discurso indireto livre, é o discurso direto livre...é o narrador que se intromete do nada, e não o personagem. Cuidado!!

Aliás, está pesado, sujo e saibam que o sexo aqui não é o sexo daí. Nada mais é tão carinhoso quanto uma transa.

Para fazer esse texto, tive 3 musas inspiradoras, uma história basal e NADA do que escrevi se relaciona com as musas tampouco com a história. É apenas o agradecimento e a redenção que precisavam sair de mim.


-X-


Antes mesmo já sabia; era ela quem tocaria o telefone, era ela quem perguntaria sobre meu dia, sobre o trabalho, eu serviria notícias e ela pagaria com telefonemas no dia seguinte. Presentava eu e mais nenhuma alma viva, era apenas eu. Nem sequer um mosquito, era o auge da agitação que eu conseguiria sozinho: aquela sala vazia, cheia da mais pura presença minha, e assim é que gosto.

Havia dois lugares no sofá preto, um era cativo meu. Outro era quiçá de uma ou outra garota com quem decidisse transar na noite anterior, nunca mais do que uma trepa, uma foda e logo estaria vazio novamente; odiava ter de dividir minha sala com pessoas potencialmente putinhas minhas, era como se fosse eu um vulgar, fosse eu um hipócrita, não queria aparentar um aproveitador, desejava ter bucetas ao meu dispor e não ter de acariciá-las na manhã seguinte, ou melhor, não gostava da idéia de acariciar o que usaria como instrumento de prazer e de raiva. Era um utilitarista. Quase um pragmático.

Ontem, assim como no dia anterior e durante toda a semana passada, ela me ligava no cume do momento meu e atrapalhava toda a concentração. Hoje - e lá tocava D.C. novamente - sua voz foi diferente: vou-me já para sua casa, em cinco minutos chego )morava a menos de cinco minutos, estava mentindo, certamente, para passar na farmácia comprar camisinhas(, prepare-se. Como poderia ficar tão excitado em tão pouco tempo? Aquela gostosa em quem ninguém podia encostar um dedo sequer estava a cinco minutos de aparecer e se entregar para o papai aqui.

Pela primeira vez decido organizar minha sala antes de um foda, essa era uma ocasião inusitada, não se recordava de nenhuma vez em que teve tempo para arrumar sua vida sexual com tanto tempo de sobra! Era um cômodo teoricamente morto, uma televisão podia ser vista à direita de quem entra e diametralmente oposta a ela, um espelho que decorava um tanto a podridão que o conjunto postava. O sofá preto de couro sintético estava entre ambas e causava um impacto entre o que os poetas representariam como a união da cópia e do todo - gregarizações duvidosas aos orgasmos que se passavam tão grosseiramente na sala. Acima do batente da porta de entrada havia um crânio de boi que ganhei do meu velho...pra atrair boas energias...demorei até os dezesseis pra saber que são boas energias. Havia ainda a sacada, aquele lugar das preliminares, onde tudo que odiava se passava - por morar na cobertura no vigésimo segundo andar de um prédio isolado verticalmente, por ser o único com tantos andares na vizinhança, ninguém de fato poderia interromper a dança de acasalamento - o gozo e o prazer só aparecem na penetração, porque as mulheres gostam tanto de nos testar se mesmo sendo eu um romântico dos Anjos - desculpe, era impossível negar a brincadeira com o nome do poeta - sempre acabo no dia seguinte esperando acordar sozinho.
Hoje arrumou a sala de uma nova disposição: o espelho ficou atrás da televisão e o sofá foi encostado na parede, dando espaço para a mesa de centro com um arranjo de rosas artificiais tão bem feitas que podem ser alvo de chutes que mesmo assim as pétalas parecerão feitas de celulose e cheias de verdura.

)Na real, até então naquele recinto que exala sensualidade só entravam varões e minhas putas. Nada mais. Testosterona reinava sobre o sêmen que impregnava partes esparsas daquele que era meu rosto à sociedade e duas lágrimas feminino já eram o suficiente para expulsar qualquer tentativa de homossexualidade em minha casa.(

Lembro-me dela numa de suas ligações dizendo que se deve conquistar uma mulher aquecendo o conhaque na vela acessa...puta que a pariu...abre as pernas logo e vamos à manhã seguinte...
declamava tão poeticamente que sentia uma flechada na parte direita do peito, um toque de poesia antes de um encontro desses é sempre bom como média - se bem que...que falsidade e quanta hipocrisia, só queremos uma trep...! Batem endoidecidamente a porta, com tanta intensidade que se abre como se um fantasma girasse a maçaneta, a brisa passa a tomar conta do corredor que se criou entre o mundo lá de fora e sua casa: quase como os podres e malditos cineastas produzem sua protagonista, D. se postou lá, na entrada de sua casa, cabelos ao vento, louros e macios como sempre foram, levantava suavemente seu rosto, unicamente para manter um ar de suspense que só me dava ainda mais tesão...boa noite, querido. - pronto! tô dentro!
Vem me cumprimentar, sobe os dois degraus que separam o hall de entrada do corredor inicial como se estivesse em uma passarela a desfilar. Não é que aquela gostosa veio mesmo!! Inacreditável!! Sempre imaginem ela tão fora da minha, aparentava sorrir falsamente para cada ladainha que saia da minha boca...mas, caralho, ela tá dentro!

Parecia andar em câmera lenta, mas finalmente chegou aos colo dele. Seus braços o abraçavam de modo reconfortante, passava-os pelas axilas e seguia seu passeio com as mãos a caminho de seus ombros, não existe abraço tão confortável quanto esse, verdadeiramente. E ele? Gostosa...vem pro papai que essa noite vai ser inesquecível!
)pois de já a depois, tomarei conta eu, o narrador em ofício, o outro estará ocupado por demais, deixemos.(
Suas mãos enormes puxavam alguns fios de cabelo que desrespeitavam o penteado para trás, buscando dominá-la. Sem hesitação, e sem exitação, pois também. Ela afasta seu corpo do pecado e notava-se uma proximidade inexplicável entre os dois ainda assim; um rosto de medo e outro de compaixão e simpatia, um de virilidade outro de feminilidade, um olhar cego e outro iluminador. Malditas antíteses que existem, aqui seria demais se deixassem de aparecer?
Vim aqui porque estava tão sozinha em casa...quero sua companhia...e não só ela, posso tê-la? Pode ter-me todo, diz-me o que quer que te faças, faço o que pedir. Quero ir à sacada, que tal?! )estamos dentro!( Pois demora a pedir, vamos afinal!!

A noite estava escura como é resultado natural de uma lua crescente ainda nova e de nuvens densas e ventosas de inverno. As palavras que saiam de ambas as bocas aparentavam tocar-se no éter entre os dois, pareciam acasalar-se, previamente ao que aconteceria posteriormente. Chocavam-se sem se tocar, chocavam-se pois os sons intensos dela pareciam opostas aos dele, frias e sem emoção. Gradualmente, cada "querido" e cada toque que os dois trocavam não era a matéria que se enrijecia, era o que ambos tinham: absolutamente nada além de um coleguismo rudimentar. Dessa vez seu passar de dedos atiçava todos os pêlos do braço dele, não por prazer, ainda não sabia o que lhe ocorria.

Terminei com meu namorado. Sinto-me um cachorro. Meus pais acham que sou insuficientemente boa para eles. Estou confuso com que quero de minha vida. Minha última transa foi há três meses, estou sedento. Quero ser escritor. Eu também. Quero ser ativo. Quero colo. Eram dois rostos na mesma sintonia, eram dois olhos que conversavam sem intermediação da voz, eram carinhos que se bastavam.

Uma conversa que durou boas três horas. Tá no ponto, ao ataque. Inclinou seu rosto levemente para frente, esperando para ver se havia resposta dela, e não houve. Avançou um pouco mais. Ela desvia o olhar, repara a paisagem, espera ela retomar sua posição de origem e vai atacá-la, e o faz. Um lábio encosta o outro, as salivas se misturam grosseiramente, o abraço se torna mais quente, uma bunda é um começo apropriado para se adentrar.. vão ao sofá preto rapidamente, esperando pelo prazer, ele se torna um insensível, derruba as rosas e partem para o que interessa...ôpa...não é que tocam justamente nesse momento a campainha de modo frenético? Ele sai correndo e chega, nota, é Ela, com cara de prenha, com olhar de vontade sexual, de quem está na seca há pelo menos seis meses, voltava de um curso que fez na Arábia Saudita, estava há sete meses sem, saber o que era prazer. Ele, sem ações, é beijado e responde de pronto, aquilo sim era selvageria. Era o que ambos queriam. Os dois se fodem sem o menor pudor, a vagina, já arrombada , não é problema algum para o já fadigado pinto dele. Mas...e a outra? Quero dizer, e a primeira? perde-se para a outra e se torna a outra? Sem explicação? Sem nada? Sem beijo nem vela? Duas lágrimas caem de seus olhos, lágrimas essas que nunca foram descobertas por nenhum dos outros dois ocupados: ela sai de cena desnorteada, corre como nunca, para, pelo que pensava, nunca mais voltar.

Uma transa sensacional. Orgasmos múltiplos. Porra sujando a mobília da sala e dessa vez algo novo: às dez da manhã seguinte, o lugar cativo do vácuo foi ocupado por Ela. Agora só havia espaço para uma, nunca mais, ninguém ocuparia aquela sala senão os dois. Não que isso lhe machucasse, a foda era foda, e gostava demais disso, queria esse gosto de novidade para o evo. A tarde seguinte foi tão animal quanto a noite anterior, pacotes de camisinhas de menta, de chocolate, com espermicida, que esquenta, que gela, que dá mais prazer, que retarda o prazer...todos usados. Só faltava uma única novidade naquela tarde: ele ficar sentado e ela comandar, estava ele já todo fodido e cansado. Antes, que tal um pouco de conhaque, lindinha? Aceito, por favor! Esquentava-o na vela quando outra vez a campainha toca, entrega a dose a sua mais nova cativa e parte ao olho mágico, ver se era o vizinho pedindo que os gemidos abaixassem de volume, pois seu filho já escutava os barulhos, e isso o incomodava. Não! Era ela noutra tentativa, era D.C., chorando, com cara de reinício, com vontade de funcionar. Ignorou-a e voltou à atividade, ainda ouvindo os socos furiosos dados na porta, exigindo qualquer explicação possível ou impossível, de fato, ansiava apenas saber que seu corpo ainda sentia tesão por ela.

Voltaram à atividade como se nada tivesse acontecido, e desta vez, como prometido, com ele sentado em seu lugar cativo e ela por cima, rebolando e gemendo como se fosse o maior êxtase do mundo – e era. A dança era especial, algo novo, enfim. Algo digno de um casal que se fode sempre – e que por isso não se amam. Os olhos revoltos giram em parábola e o peito manequim 44 balança celeremente, jogando-se contra o rosto dele, deixando-o ainda mais com fascinação pelo que acontecia. A camisinha quase rasga de tanta pressão imposta na fricção, a vulva dela começa a se contrair, de modo a se inteiriçar, seu clitóris está em chamas; nele, a virilidade mostrada ao seu máximo, o abdome endurecido, o movimento com as coxas, que passam a carregar duas pessoas. Uma cena de movimento incontestavelmente prazerosa.

Fecha seus olhos como se para absorver o máximo de cada peristaltismo, passa a viver unicamente pela emoção e pela sensação que lhe vem do roçar entre as carnes, uma animação estimulante que se torna rotineira e plenamente querida. É mais do que uma simples evocação do contínuo; é a sensação contínua de prazer, é o sentir tanto o tudo que esse se torna nada...e abre os olhos: onde se meteu? O gozo ainda reina em seus pêlos, mas cadê ela? A sente, sabe que lá está, mas não consegue enxergá-la. Sabe que ainda transa, sabe que se masturba, sabe que está só, mas continua.

Agora a sala está cheia. O sofá preto é plenamente preenchido por ele, deitado, refletindo sobre as estrelas que consegue ver através da porta de vidro da varanda. A televisão desligada, como de costume, um livro pode ter seu lugar tomado por uma revista de mulheres nuas. Hoje o que faz é consertar o vaso de rosas, ainda sabe que aquele foi fonte de muito prazer já e por isso o quer novamente na mesa de centro. Os cacos eram muitos e diminutos, a cola não era das mais manuseáveis, suas mãos trêmulas não colaboravam, mas gradualmente o vaso retomava sua forma original, levemente distorcido – distorcido é deveras forte, diferente, nem para melhor tampouco para melhor – e o que dantes viva no formato de uma Catedral brasiliense agora aparenta uma loura curvilínea na praia de Ipanema – com o seu balançar que é tão poético. Faltam duas peças, as de mais pesar e dificuldade.

Para. Hesita na tentativa, suas unhas já coladas umas às outras esboçavam um movimento de separação, seus olhos derramavam suor em bicas, mas aqueles dois pedaços insistiam em não se unir ao todo ainda. Puta que pariu essa porra...pensou em C. – quanta formalidade a partir de agora não passa de um movimento natural de afastamento – e no sexo que perdeu com ela, puta merda, era uma foda foda em potência...que se ferrem os cacos. Vou – e vai – ligar pra ela. Dois toques bastam; ela atende com um Alô alegre. Oi, sou eu. Oi, querido. Vem pra cá? Ta bom – essas palavras saiam levemente mais agudas do que sua voz naturalmente o faz, parecendo um descaso e que de fato não o é – em cinco minutos chego.

Cinco minutos, tempo suficiente para terminar a reconstrução do vaso. Era o que pensava, era o que não fazia. Em cinco minutos uma única peça quase se auto repôs, e só. Tremia ainda – quiçá era o tremor da falta de sexo. Dessa vez nada de a porta bater, ela já entrou sem mesmo pedir – nem precisava mais, que respeito devia ela a ele? C. era alvo de um uso animal, e mais nada – mas sabia que o usava para o mesmo. Vamos logo...tenho sede de tesão, preciso de orgasmos. E o empurra para o sofá.

)Não se carece explicar a cena, todos a conhecem, até mesmo os virgens – pois esses são mentirosos.(

Findado. Cigarro. Fumaça. Cola para recompor o vaso em sua perfeição. Agora sim, seus dedos estavam seguros, seus olhos fixaram-se sem muitos problemas, o caco estava por fim vencido. Do mesmo modo, o sofá estava vencido, o tabu se extinguiu, a lei do silêncio e do vazio acabava sem dor – ele por contrário gostava disso. Todo segundo estava o sofá preto ocupado por ele e por C., não necessariamente em corpo e osso. É verdade que não era sempre e tampouco toda noite que a transa acontecia, e não era isso que tornaria ambos felizes, mas sim uma foda prazerosa na noite anterior e se fosse imperativo e forçoso, um se masturbava, a outra batia uma siririca, algumas – muitas – vezes isso era quilômetros mais acolhedor e reconfortante no táctil ao prazer sexual em si. Sabiam que teriam sempre ao assento ao lado um putinho ou uma vadiazinha com que poderiam roçar carnes novas.

)Agora não acompanho mais a estória do casal, ele provavelmente vê beleza no vaso sim, sabe que pode haver um quê de amor na transa. C. é certa de que a proteção da virilidade dele é indiscutivelmente o que a prende. Contudo, será que um dia chegaram os dois a ficar um dia à noite a passear nas vielas e nas alamedas da cidade acariciando um a nuca do outro? Será que houve um beijo com amor? Será que o toque deixou de ser erotizado? Isso não é uma história com um final feliz de conto de fadas, é puramente a realização de uma transa que foi abortada antes mesmo do nascimento, esperam, os mais românticos, que houve sim a descoberta do amor. Sabem, os mais sábios, que isso só será possível quando ambos cessarem de pensar em prazer próprio e deixassem de se masturbar: a vida é vivida, pois assim, nos momentos de dor.(

domingo, 14 de outubro de 2007

_pena, suas próprias

Antes, pra facilitar a vida de vocês, vai um poema do Décio Pignatari para vocês refletirem...E em seguida, o famoso...

LIBERDADE

ave sem asas

se vou dá-las

voa




-X-

Pena, suas próprias

À procura do outro lado

O que se tem de meritório é que a Pena, ainda que de modo penoso e célere para a memória já desconhecida, porém vagaroso, persistia em dançar com o vento central que a arrancara e de modo repetidamente primário e incipiente mantinha a paixão florir. Até

Memórias de um Esquecimento, já diria Thais Echeverria. Entretanto, diria ainda Bataille, ou se é essência ou nada se é.

Àquele maldito vento, um sentimento de dolo do comodismo e de arrogância. Onde ela está? “Aí, Zé, ôpa”, voaria Guimarães Rosa. Perdida. Uma inspiração bastá-la-ia. Uma imaterialização prática. Uma idéia. Conquanto o indeferimento pudesse doê-la as entranhas, aquilo Seu o chamava.

A Pena mal havia caído e se libertado, finalmente livre para crescer e ser, sozinha, algo maior do que era antes em seu conjunto. Há pouco, levemente tocada pela tristeza e pela dor da pressa, das escolhas e dos itinerários que foram tomados, dançava continuamente nas nuvens, recortando ao alento dos ventos que a costurava no céu formando os mais belos caminhos e mais exóticos desenhos que jamais imaginara poder criar, a Ave voava e cantava timidamente à cidade, embelezando um pouco o cinza e o amarelo. Cores. Às cegas, rumava ao anoitecer ignorando a escuridão e atentando somente ao seu vôo solo, belo pela espontaneidade, largava-se, seu corpo dançava um tango, um samba, uma valsa e uma polca, cada uma ao seu momento, jogava-se ao sabor das penas, que por ela nasciam, e do vento e a tal azo cortava as nuvens a seu bel-prazer, sutilmente, e com brio de não errar, planava o dia completo e se perdia com os vendavais de Março. A Ave se cansava de fastio ao capo de sua vida florestal e ansiava as frentes frias e quentes. Cantarolava, regorjeava para si e isso o fazia inteiro, misturando experiências em conjunto às experimentações e escolhendo e escrevendo sua sina por sua escolha, livre como foram as cavalgadas de Sete de Ouros e os relatos de Bento Santiago. A Ave, por eterna irracionalidade e anúmera submissão, voava com dificultosa normalidade e rasgava os céus prazerosamente com um movimento ainda desorganizado de suas asas e penas, os ventos benquistos eram os de maior medo, de maior escala, e como um músico, um astro de Rock nos orgasmos prévios, de previsão do que se sucederá, teme a incompetência como almeja o sucesso, treme com a nota e soergue unido à multidão, numa ligação espiritual, um pedaço de imortalidade. Desafiava o amanhecer e venerava o pôr-do-Sol alaranjado encorajador. Do amarelo ao laranja, passando pelo vermelho, um dia morreria e nasceria na memória do desbravamento dantes.

Num dia nublado, com nuvens grossas, quase que infindas, em que seu caminho natural seria barrado pelo calvário, a Ave, temerosa e oportunista, se despena com os vendavais – que, ainda fracos de ar e ricos de potência, assustavam-na – lançando aos ares e à toada da cavalgada toda sua sustentação para seu vôo. Caia vertiginosamente contra a montanha.

)Um instante de negação toma conta do Tempo e tudo o que se via era a pintura natural do caminho do Sol , seus raios penetrando violentamente contra as inocentes nuvens – amareladas não pela idade mas sim pela esperança de se completarem com as penas voláteis e com a feição inocente de uma Ave – forte e soberana – que nada busca senão o outro lado , aquele que apenas os Grandes conseguem . Uma busca de vitória e de instinto . O Tempo pára e nada mais é importante senão a cena em si e a beleza da arte . No amontoado de penas , que se faz perder a lógica e a continuidade , o instante em si é a vitória.(

A Pena, recortando e redesenhando à sua percepção a alvura do céu, voa sutilmente e envolve sua submissa Ave. Sobe, desce. Ascende, transcende. Retoma, redoma. Nessa circulação invisível à imensidão do entardecer, a Pena, quase que com vida própria porém mútua aos ventos, às Aves, às nuvens e ao vôo, faz-me lembrar que nada é maior que o detalhe: ainda as penas voavam descontroladamente, quase que ordenadamente – trouxeste a chave, perguntam.

Eu teimava em cair. Não compreendia a tranqüilidade com que tudo se mantinha em movimento – espontâneo à Arte do que é natural – e porque raios tudo aquilo fluía de modo calmo. A mim restava a serenidade. Deixei-me.

Só quando me quietei para apreciar o fim de algo que nem havia começo – sim, uma atemporalidade como são todas similares – de modo a notar na dança do caos – tal qual se é na realidade da poesia – a beleza.

)De muito aquele momento me parecia com o que se escreve aqui, um aparente horror – assim é aos desavisados – que maquiava o que de ímpar se queria esconder. E mais um momento o que era movimento parecia pousar na pausa imaginária e tudo aquilo, o Vento, parecia agora uma mão que me levantava em união ao meu conjunto. A Pena, aquela que sozinha nada é e comigo se é auto-suficiente, estava à parte; dançava em volta da Nuvem e dentro dela estava. De súbito, um bando de aves surge ao horizonte, iluminados pelos feixes solitários de luz que passavam às nuvens que cobria todo o céu – eram alguns hábeis que conseguiram adentrar no mundo ininteligível. Cada um voando sem regras procurando o outro lado. Procurando voar livremente. Isentos de culpa, sem errar e tampouco sem acertar, ao sabor do alento, ao sabor do vento.(

O segundo – eterno aquele – em que subíamos foi registrado nas nuvens, a Pena escrevia estranhezas em um tom azulado violeta para que lêssemos. E lá se imaterializou e imortalizou.

Eu, a Ave que havia feito tudo aquilo, vitorioso – mesmo que condenado ao esquecimento – sabia que era: ainda que imperfeito e impreciso, todo aquele erotismo fora criado sem que se fosse penoso. )Todas as nuvens foram contaminadas pelas penas que eu decidi onde e como posicionar, à oscilação dos ventos de outono. Eu ainda caia, mesmo que sem notar, sem me deparar com a ameaça que estava defronte a mim. Os Ventos existiam, mexiam comigo, no entanto não o que deles precisava já fora laborado( Fiz Arte: o bem fazer imprecisões que ininterruptamente são apropriadas àqueles que arriscarem transpassar a continuidade.

No chão, caído e deslumbrando toda a beleza dos céus e do meu pedaço – aquele que fiz –, calo-me e assim permaneço horas – julgaria minutos ou segundos – até que algo recomeçasse.

Não tarda, voltam-me e crescem as penas e o Vento volta a uivar. Pronto a voar estou. E assim faço: naquela escrita ininteligível e plenamente verdadeira para mim e para todos diferentemente, volto a bailar uma dança nova, como essa que vocês acabaram de concluir.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

_a calmaria

)estou no labri, com um teclado estranho...se sair algo errado...não explicarei...(

-X-

Como já sabem, o natural é que tudo caia pela força dos ventos da primavera. As folhas, as penas...tudo.

Em um ponto preto na folha branca aparece aquele mosquito voando vendado, vendo nada, voltando para a terra da calmaria - por puro insinto, sem qualquer aspecto de humanidade, cansou-se de forçar suas asas contra os ventos a caminho da proteção do concreto das nuvens: estava temendo tudo. A eiva crescia em uníssono ao seu vôo..não, pior: nem crescia nem decrescia, parava.
Sem juizos nenhuns, o vôo tornou-se tedioso.

Estático, o mosquito começa a cair para cima...