quarta-feira, 19 de setembro de 2007

_o desacordar do feto


)deixando claro: é um possível primeiro capítulo de um futuro livro...quem sabe...e eu reli...mudei...sempre acontece isso, então decidi logo publicar, antes que eu ache que o texto é novamente incompleto...segue:(


-X-


)A primeiríssima vez de que tenho reminiscência do meu contato com o onírico data de Dezembro de mil novecentos e oitenta e sete, não podia fazer nada senão pensar nessa época, ou dormir. Era disso que me sustentava; do meu sono e do meu ser íntero-anterior pensante vivia mundanamente. No período de maturação, na reta final para o desabotoar de mais um, fui pego com um sonho em verdade importuno que azucrinou minha existência ad extremum que teremos: boiava minha fisionomia atual afronte de mim, tatuada nas costas etéreas do aeon, de modo tal que meus movimentos manuais podiam deformá-la e desfigurá-la ad libitum, tornando-me, pois quem duvide, em um pedaço de papel amarelado pólen soft com rabisco de carvão. O que mais assusta era, entretanto, minha dupla presença, um sensível, outro fugidio, um suscetível a danos, outro inabalável, um correto, outro externo, um de gelo e outro de água. Brincava comigo mesmo, pondo minha forma em xeque e desenhado-a ao alento do vento – sim, ventava demais – e do acaso, levando-me á descrença e ao medo de transfigurar-me com intensidade tamanha que seria impossível retornar-me à física. O silêncio da cena era gritante, o movimento em si havia se tornado um grande fato, até que uma moça apenas com silhueta monstruosa visível me paralisa com um simples toque, Saia do meu mundo, dizia de modo ardil como se tivesse invadido a si mesma, Saia antes que o buraco se feche. Não havia visto o buraco que havia anterior ao vapor e ao orvalho que compunham meu reflexo, não reparei por atenção demais aos desenhos que fazia, É grande suficiente para que consiga sair, vá! e dizia e redizia inúmeras vezes para que saísse. Gostava tanto da situação, confortável e divertido era poder ficar eternamente brincando – no sonho – que o pedido caiu em tom de brincadeira. Vá, vá,vá,vá.

O tom habitualmente maternal modificou-se com a nova situação, era notório já um intróito de surpresa em sua voz, gradualmente mais doce e conformada – até sua silhueta tornou-se feminina e delicada – que serviu apenas como inibição de qualquer movimento meu. E parei lá, naquela posição, até que o buraco se fechasse por completo. Aprisionei-me naquela cena, queria de maneira nenhuma fugir-me, o que agradou, como era de se esperar, a silhueta, que passou a se entreter ao lado meu com os rabiscos e com as luzes e com o vapor que parecia ser tão bastante a nos dois. O tempo passava e um servia de modelo ao outro, o um decidia assoprar, gritar, cantar a fim de ver qual seria a nova conjuntura. Assim repetia-se meu sonho vezes e vezes.

)ainda no ardente houve uma vez que o movimento habitual de puerilidade tornou-se mais crescido e adulto, o DeviR, o OnduLaDo ConSanTe Se TorNOu TãO iNtEnSo E vIvO qUe EsQuEcIa-Me Do TeMpOoOoO. Ah... ... ... ... finalmente nosso elo se selou ... não havia mais modo algum de negar que tivemos uma criação nossa...: uma pena surge presa a meus fios de cabelo, de modo a fixar-se neles, sem penteá-los e torna-se um ícone que perduraria sempre em meu mundo dos sonhos, e somente lá, até que algo mudasse a ordem do universo e levasse também ao material.(

Com firmeza de uma anedota, no quase-fim de janeiro do ano seguinte, em pleno sono, empurraram-me para uma brancura que tomou lugar do preto que havia, tapas me davam como se eu houvesse pedido isso, a silhueta maternal mantinha seu vozerio reconfortante, brincava sem notar o drama pelo qual estava passando e cada instante mais que ela se distraia e se alegrava com o vapor, maior ela ficava, e não parava, . Ela se tornou o mundo e reciprocamente. Foi aí, então, que, encorajado pela sabedoria de que a natureza já era conhecida minha, abri meus olhos pela primeira vez e chorei. Chorei com excesso, até parecer sair sangue dos olhos e sujar todo meu corpo ainda roxo, Ai que lindo, seguido de choros de desconhecidos, sustos pós-sustos.

Já acostumado com toda aquela incerteza que pairava sob meus olhos, compreendi o que acontecia: se toda aquela diversão era o que me alimentava durante tanto tempo, agora que a circunstância era diversa, deveria reencontrar-me com minha silhueta e voltar à brincadeira.

Hoje, já sei que alguns detalhes faltam ao esclarecimento do sonho. Porque não via o mundo plenamente, porque o vapor era eterno, porque aquilo era tão perfeito se, na realidade, faltava-me algo, faltava-me companhia, carecia de algo mais que ainda desconhecia. Todo esse questionamento é fruto de muitas manhãs assustadas em que o sonho se repetia e se desaparecia sem aviso prévio. Gradativamente, tornou-se um pesadelo toda essa questão de correr atrás do passado, de conseguir encontrar minha primeira grande amada. Uma incumbência imaginária que afligia meus dias.(

9 comentários:

Anônimo disse...

Borbas!!

Adorei meu!!!

Algumas palavras/expressões em latim que me são desconhecidas, mas achei muito legal!!! /o/

Adoro seu estilo... Sem querer ser puxa-saco, nem nada, só gosto muito mesmo =)

Beijo!

Guilherme D. disse...

O momento da separação.
Da continuidade para a descontinuidade.
Ex-sistir.
Mas não fique com raiva dele. Aqueles tapas fazem parte do procedimento padrão.

Guilherme D. disse...

Genial é pouco Borbas...
Poderei morrer feliz o dia que conseguir escrever com tamanha sutileza, expressão, profundidade e poesia.

Guilherme D. disse...

(...)não podia fazer nada senão pensar nessa época, ou dormir. (...) No período de maturação, na reta final para o desabotoar de mais um, fui pego com um sonho em verdade importuno que azucrinou minha existência (...) uma moça apenas com silhueta monstruosa visível me paralisa com um simples toque, Saia do meu mundo, dizia de modo ardil como se tivesse invadido a si mesma, Saia antes que o buraco se feche. (...) Gostava tanto da situação, confortável e divertido era poder ficar eternamente brincando – no sonho – que o pedido caiu em tom de brincadeira. Vá, vá,vá,vá.

Eis a criação, para mim.

Letícia Mori disse...

Uau. Vc já tinha me dito que demorou muito pra nascer, mas contado desse geito fica muito mais interessante. Esse ultimo parágrafo então, tá lindo, muito tocante.

Eu fico me perguntando se a morte é assim, como nascer. A gente não quer sair desse que é o único mundo q a gente conhece, e nem imagina que nos falte algo mais q a gente ainda desconhece. Alguns relutam mais do q outros, mas todos temos medo, eu acho. E nenhum de nós sabe o q vai acontecer depois. Vc acredita em vida após a morte?

Saulo disse...

névoas, umidade, vinda ao mundo.
para se ler de novo. e de novo. e ficar perturbado.

Guilherme D. disse...

O legal daquele conto é que podemos idenficar nosso mundo, a mediocridade de que tanto fugimos: quero que ocorra algo de novo!!! Algo fora do lugar!!!
Nem eu sei ao certo pra quem ele escreveu aquele conto. Pode ser para o tempo, o nosso.

Guilherme D. disse...

Não. Ela não é a poesia e nem é a mesma Ela daquele poema de outrora.
Mas sinto ter escrito esse texto de um modo tão intimista e particular. Só eu posso entender esse texto... E essa não é minha intenção ao escrever no blog. Escrevo para os outros, não para mim.
Eu sei que você não gosta de interpretações tão fixas, mas vou te falar como que surgiu aquele texto: do encontro entre Bento e G.H., ontem. Pronto. Acho que agora o texto fica mais claro e menos chato.

Ricky disse...

É difícl explicar um sentimento. A briga entre a dualidade que existe no interior ao ser humano. é como se fossemos feito anteriormente e nosso destino fosse descobriu o todo que fora desenhado, não só aquilo que é perceptível aos nossos olhos fatigados. A construção de um álguém é dolorosa e demorada e nem todos passam por isso.Portanto, não estão aptos a compreendê - lo. Só priveligiados sabem o quão agradável é, olhar e ver o além do espelho. A vida ´so é vivida intensament e quando se pega as partes que "faltam"
Mordidas e socos.